terça-feira, 25 de maio de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (V)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SEC. XIV–XV (continuação)


DIOGO TRUTESENDES (Blandon) – era filho de TRUTESENDES VENANDIZ, Inveandiz (1075–1084) e talvez só Inveando ou Invando, em 1082 e 1099, possivelmente também chamado Trutesendo Abomar, como aparece em 1080, na mesma região, notário do Mosteiro de Grijó em 1075, o qual devia ter herdado o dito Paço, ainda então só assim designado, e aí vivido, como sugerem, os ditos documentos e um outro de 1084, em que ele, só com o nome de Trutesendo, faz uma venda de terra em Corveiros (Grijó), que tomara de «gaancia».
Não consta dos ditos documentos com quem casasse, mas teve filhos:
1 – Diogo Trutesendes (Blandon), atrás citado, referente a Pedroso;
2 – Fernão Brandom (1109–1131), que só pode ser aquele que, com o nome de “Don Brandon”, em 1109 fundou um bairro em Souselas (Coimbra) e que em 1131, confirma documento do Mosteiro de Lorvão, em que é nomeado como “Fernandus Brand”, cujo apelido Frei António Brandão confunde com Brandião;
3 – Paio Trutesendes (Brandon), “Patronos de Grijó e do Templo, Contadores da Fazenda do Porto e Poetas do Cancioneiro”;
4 – Godinho Trutesendes, proprietário das «vilas» Casal em Rio Meão, e Brantães, em Sermonde, tendo casado com Elvira Abomar, filha de Godinha Abomar. Teve os seguintes filhos:
- Pedro Godins
- Elvira Godins
- Maria Godins
5 – Mendo Trutesendes, que, em 1087, com sua mulher Elvira Fromarigues, vende a Soeiro Fromarigues a sua «villa» de Penso em Sermonde; Filhos:
- Auroana Mendes, mulher de Telo Álvares, os quais, em 1135 (Baio-Ferrado, 209), trocam uma herdade em «Palaciolo» (Paços de Brandão), outra em Lavandeira; s.m.n.
- Trutesendo Mendes, que também vende, em 1146, o que possuía na “vila” de Brantães; s.m.n.

TRUTESENDO VENANDIZ (1075–1099) era filho de Evenando Guimires (1004–1025 e de Godinha Abomar (1025), neto de Guimiro Evenandiz (1018) e de Animia, bisneto de Evenando (938–994) e de Truílhe (?), que vivia na Terra da Maia, tudo leva a crer que tivesse sido um dos que auxiliou Vimares Peres, na reconquista do Porto (Presúria do Porto – 868). É curioso que no ano de 967 a versão que um escriba usa não é Evenando mas sim BRANDON, a confirmar uma venda de herdade em Custóia (Leça), juntamente com Brandila (Livro Preto da Sé de Coimbra, T. III, Doc. 530; e Diplomata Chartae, doc. nº XCIII). É a primeira vez que aparece o antropónimo BRANDON nos nossos documentos medievais e a sua presença verifica-se em Leça (Maia) e no período em que domina aqui o Conde D. Mendo Gonçalves, que tinha às suas ordens o referido Evenando, não obstante continuarem ainda a figurar ali as versões Venando e Invendo (Livro Preto, T. II, doc. 291 de 977 et alii).
Em 994, talvez reportando-se a 982, é a versão BLÂDO e BLÂTO que figura nos documentos CV e CXLI de Diplomata er Chartae, na referência a «Mestre» (mestre Evenando).
Ainda, no que se refere a Trutesendo Venandiz (1095–1099), ele era filho de D. Evenando (Guimires), mestre, vulgarmente apelidado de BRANDON, e “magiaster BLA(N)DO, como fora seu avô, confirma escrituras de bens na Terra da Maia em 1004, 1008, 1011, 1018, 1021 e 1025 (Portugaliae Monumenta Histórica, Diplomata et Chartae, docs. XI e XXXI; e José Mattoso, A Nobreza Medieval Portuguesa, Edit.Estampa, Lisboa, 1987, pgs. 221–226 e respectivas notas), com seus irmãos Trutesende e Rodrigo e, com eles e seus sobrinhos, aparece também a sul do Douro, onde devia ter participado na reconquista e consolidação do poder da referida Terra de Santa Maria; era casado com Godinha Abomar, irmã do mestre Sendino Abomar, ambos filhos de Abomar Dias, também mestre, juiz e senhor de S. João de Ver e de «Palaciolo», cujo topónimo de «palaciolo» passou para “Paços de Brandão”.
GODINHA ABOMAR (IBN OMAR), vem identificada numa venda de metade da «uilla que vocitant Palaciolo», sita «sutus Sagitella», «inter Palaciolo et uilla Nugaria», «qui fuit de Avorna Didaz», feita por seu irmão Sendino (também dito «magister», em 1013 – LIVRO Preto, doc. 156) e por ela. Ora, sabendo-se, não só por este doc. de 1025 (Dipl. 257), mas também por outro de 972 (Dipl. nº 76) e de 1027 (Dipl. nº 262), que esta “villa”, chamada «Palaciolo» (Paçô), pertenceu ao dito Avorma ou Abomar Dias e que os netos do Mestre Evenando vieram a ter assento aqui e a chamar-se BRANDÕES, só pode ter sido por esta Godinha ter casado com o dito Mestre Evenando e ficado herdeira da outra parte da grande herdade de Paço, mesmo porque manteve ainda este nome e só no século seguinte é que passa a chamar-se “de Brandão”.
ABOMAR DIAS, pai de Godinha Abomar, era certamente filho de “Didacus Cid” e neto do presor CID, lembrado num lugar em Milheiros (Feira), figura já em 773 (doc. nº 454 do Livro Preto, falso ou com falta de dois cc), relativo a S. João de Ver (Feira), em que se fala na dita «villa Palaciolo». A presença dele é confirmada por outros documentos : um de 972 (in O Mosteiro de Arouca, por Maria Helena C. Coelho, doc. II, pp 187/189), em que ele desempenha o papel de Juiz; outro em 977 (Cit. Livro Preto, doc. 291), confirmado por ele e sendo notário Invenando (por Ibn Venando); e, depois, no ref. Doc. de 1025, seus filhos, ao vender parte daquela fazenda de «Palaciolo», esclarecem que ele foi senhor dela. Como porém, ficou outra parte por vender e é nela que vivem posteriormente os filhos e netos daquele Mestre Evenando, é legítimo concluir-se que foi por casamento, como digo acima. (Em “OS BRANDÕES – Origens e Varonia (938 – 1663) de: M. Antonino Fernandes”)
Julgo que deixei bem claro as origens do nome «próprio» BRANDON, que já, em 967, aparece devidamente documentado. É, pois, pouco provável que se fosse buscar este apelido a famílias estrangeiras (Inglesas, Normandas, Irlandesas), onde tanto a escrita, como a pronúncia é muito diferente, quando, já em Terras de Santa Maria – Feira, no séc. X, se tem conhecimento de estar bastante enraizado tal apelido ou nome.
(continua)

3 comentários:

  1. caro solraro :
    sem querer pôr em causa as suas teses ,as quais considero de grande rigor documental, como explica o relevo dado pelo " códice do Mosteiro de Lorvão onde transcreve um documento de 1131 , cujas três ultimas folhas , onde aparece Fernando Brandão como testemunha . Depois diz : “ Dos Brandoens há tradição que vierão de Inglaterra ( Normandia ) & que dous irmãos do tempo do cõde Dom Henrique jazem sepultados em Grijó “.O único erro deste registo , é que não eram ingleses , mas sim da Normandia francesa... Eu não contrario que haja um pouco de exagero quanto ao fundador desta terra , mas que o dito Fernando Brandão existiu não resta duvidas , está sepultado em grijó, casou e teve 3 filhos , dois rapazes e uma rapariga ,viveu cá no burgo e que um descendente seu , Carlos Brandão, o Velho , seria mais tarde conde de ÉVORA E de Vila viçosa, devido ao casamento com a filha de Gualtino Pais ... Possuo documentos que circunstanciam a sua existência , mas não sou avesso ao facto de aceitar de que os outros Brandões que cá passaram "SEJAM OS VEROS ", podem é não bater a bota com a perdigota ... Isto de historia tem muito que se diga , e por muito de que se substancie , falha sempre algo... e se quiser confirmar o que atrás disse , basta procurar na " Monarchia Lusitana , edição de 1690 ,capitulo XIV ...

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  2. Amigo Bardo da Fina,

    Espero que leia os artigos que se vão seguir, onde encontrará explicações, que como compreenderá, estão devidamente documentadas, e que servirão para uma melhor ilucidação do que até aqui mencionei, e, como já deve ter percebido faço sempre referência às fontes que dão origem a estas Dissertações. Oportunamente, publicarei uma bibliografia bastante completa,bem como documentos que serviram de suporte ao que escrevi sobre as raízes desta nossa terra de PAÇOS DE BRANDÃO, incluindo os da "Monarchia Lusitana".

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  3. pergunto-me se haverão alguns vestigios ou hipoteses para a localização do dito palácio. Deve ter sido um edificio imponente para ter deixado marca durante séculos sobre a terra.

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