sexta-feira, 21 de maio de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (IV)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV – XV (continuação)

No que atrás ficou exposto, verifica-se que a toponímia de Paços de Brandão, até ser assim conhecida, teve uma longa evolução, desde o séc. X até ao séc. XII, altura em que aparece a «frigisia d’Palácio blãdo» e bastante bem documentada, conforme documentos que relacionei sobre este assunto. Resta agora encontrar a origem dos “BRANDÕES”, assunto de que vou tratar de seguida, na esperança de estar a contribuir para uma melhor compreensão da nossa história local, referente a este período.
A origem dos “Brandões”, como a de outras famílias portuguesas, têm apresentado um elevado grau de dificuldade para os nossos historiadores da Idade Média. Talvez o primeiro a referir-se a esta família medieval tenha sido Frei António Brandão (1584-1627). Deu-lhe como origem a Inglaterra; outros houve, como Alão de Moraes, Sousa e Silva Gayo, que seguem a opinião de Frei António Brandão; outros, como Manso de Lima, considera a sua origem na Normandia e ainda há aqueles que lhes indicam como origem a Irlanda.
O certo é que nem no “Livro de Linhagens do Conde D. Pedro” nos aparece registada a origem desta família, como também nenhum dos historiadores nos deu a conhecer tal. O próprio Pde. Correia, página 52, do seu livro “900 anos de Paços de Brandão”, nos diz que, no ano de 1095, um cavaleiro oriundo das nórdicas terras de França, desceu à Espanha, com espírito de cruzada aqui entrou para levantar o seu Palácio e iluminá-lo com os 5 Brandões da sua estirpe nobre, etc.; no entanto, não nos apresenta qualquer documento que justifique esta sua afirmação e nem nos dá a conhecer a origem genealógica de tal fidalgo.
Entenda-se que ao «Fernand Blandom» do Pde. Correia, muita coisa lhe falta, para justificar a sua origem «normanda». Além disso, é notória a falta de documentos que atestem a sua presença em Terras de Santa Maria – Feira, no ano de 1095, falta suporte documental, para validar ser, naquela data, um dos senhores desta terra. Conforme já ficou demonstrado, pela relação de documentos que apresentei, no ano de 1095, já havia possuidores de propriedades, pelo menos desde o séc. X, nesta localidade, então conhecida com as denominações que indiquei.
Em Novembro de 2007, veio à estampa um livro intitulado, «OS BRANDÕES – Origens e Varonia (938 – 1663) », de M. Antonino Fernandes, que nos vem dar muitos conhecimentos quanto às raízes desta terra. A sua “Dedicatória” não pode ser mais expressiva, para além do que tudo aquilo que se possa escrever sobre este assunto: «A toda a grande família Brandoense, sobretudo os naturais de Paços de Brandão, que se prezem da terra, do sobrenome e de conhecer as sua raízes históricas.» É neste livro, na página 22, que vamos encontrar uma individualidade, DIOGO TRUTESENDE (Blandon) como patrono da «villa Palácios».
Diogo Trutesendes (Blandon) é assinalado na pág.96/97 dos “900 Anos de P.B.”, que aparece numa aquisição do Mosteiro de Pedroso, no ano de 1136, bem como na pág.99, como sendo um dos proprietários desta terra «villa Palácios», em “Pergaminhos de Vacariça e Lorvão, em 1057-12 Cal. De Fevereiro” Froila e sua mulher Gonza doam ao Mosteiro da Vacariça a terça parte da vilas de Paço e de Sta. Cruz e seis leiras em Borreiros.
Em “OS BRANDÕES – Origens e Varonia (938 – 1663)”, página 22, encontramos este Diogo Trutesendes (Blandon) como patrono da «villa Palácios» e de parte do Mosteiro de Vilar (de Andorinho), cujos bens menciona em 1136 e, com os seus filhos e netos, faz doação da 5ª. parte deles ao Mosteiro do Pedroso, em testamento exarado naquele ano, do qual se conclui tratar-se do padroado de Paços de Brandão, mesmo porque seus filhos doaram o mosteiro de Vilar do Andorinho a D. Pedro, bispo do Porto, em 1146.
Nota:
Para todos aqueles que se possam interessar pela história da sua terra, no nosso caso, de Paços de Brandão, eu aconselho uma leitura bem atenta do livro que tenho citado e do qual me vou servir de algumas partes do seu conteúdo; não posso, contudo, deixar de transcrever o que o seu autor, M. Antonino Fernandes, nos deixou expresso na contra-capa de “OS BRANDÕES – Origens e Varonia (938 – 1663)”, para uma melhor compreensão e estudo da história local de Paços de Brandão:

«Partindo de provas indirectas mas objectivas e concludentes, aqui se mostra que o apelido Brandão é um derivado do antropónimo Evenando (nome de um lugar-tenente do Conde Mendo Gonçalves) e não do Inglês Brendan (nome próprio e apelido) nem do Irlandês Brennain. Mais se mostra como o topónimo Brandão de Paços de Brandão só pode vir do facto de esta «villa» medieval, doada à Ordem de Malta, ter pertencido a outro Evenando (1005 – 1025), neto do dito Evenando, que veio a ser avô de Fernão Brandão e 4º avô de Martim Brandão, o Velho, dos Nobiliários. Desfaz-se, assim, toda a problemática tecida nos Armoriais e Nobiliários sobre as origens dos Brandões. E esclarece-se a ascendência, por varonia, do seu titular mais representativo, João Brandão, 1º Contador do Porto, cujos pais e avós também andam errados nos Nobiliários, por não usarem o apelido, certamente para encobrirem a sua origem e condição social e poderem gozar dos Privilégios dos Cidadãos do Porto
(continua)

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