Nota do Administrador: Em homenagem ao 1º de Maio, o Engenho deixa aqui registo do seu agradecimento pelo contributo com que o autor da comunicação que abaixo se apresenta, nos presenteou. Acreditamos que a força e vivacidade das cidadãs brandoenses aqui se veja reflectida. Bem haja!
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Maio de 1846, o Minho levanta-se (Maria da Fonte); e, diante desta reacção, o Paço treme e Cabral cai. A causa imediata da revolta foram questões de recrutamento e a proibição do enterramento feitos dentro das igrejas; a população do reino andava em permanente efervescência, devido ao ressurgimento do espírito jacobino de 20 (1820), que é o mesmo de Setembro (1836). Às Câmaras (46) vem a união dos moderados (Palmela, Sabrosa, Rodrigo) com os setembristas (Passos, José Estêvão, Garrett, Mouzinho de Albuquerque ) e com os miguelistas – sob o comando do duque de Palmela. Foi neste cenário que o papel irrequieto e desembaraçado de uma mulher do concelho de Póvoa de Lanhoso, conhecida por Maria da Fonte, teve um papel bastante relevante na insurreição que do Minho lavrou a grande parte do reino.
À Maria da Fonte sucede a Junta do Porto. Comete-se o erro da aliança com os miguelistas, reproduzem-se todos os males dos movimentos políticos nacionais, a intriga, a inveja, a pequenez dos meios e a maior ainda dos fins; lutam as pessoas mais do que os princípios; e por tudo isso a Junta do Porto, depois de vencer, entrega as armas como vencida.
Pode-se afirmar que no movimento popular da Maria da Fonte, continuado pela Junta do Porto, de novo as ambições republicanas aparecem à luz. É interessante reproduzir, na íntegra, e com a ortografia de então, o “HYMNO DO MINHO - (Vulgo MARIA DA FONTE), canto patriótico cantado a primeira vez no dia 24 de Junho de 1846 em casa do marquês de Niza, por uma dama de teatro lírico e dedicado a D. Libania Ferreira Loureiro, música do maestro Ângelo Frondoni:
«Baqueou a tyrannia,
Nobre povo, és vencedor,
Generoso, ousado e livre,
Dêmos glória ao teu valor.
Eia, avante, portuguezes,
Eia, avante! Não temer!
Pela Santa Liberdade
Triumphar ou perecer!
Algemada era a nação,
Mas é livre ainda uma vez:
Ora, e sempre, é caro à Pátria
O heroísmo portuguez
Eia, avante, etc.
Lá raiou a liberdade,
Que a nação há de additar!
Gloria ao Minho, que primeiro
O seu grito fez soar.
Eia, avante, etc.
Segue, oh povo, o belo exemplo
Da tamanha heroicidade,
Nunca mais deixes tyrannos
Ameaçar a liberdade.
Eia, avante, etc.
Fugi, déspotas, fugi,
Vós, algozes da nação!
Livre, a Pátria vos repulsa!
Terminou a escravidão.
Eia, avante, etc.
O povo português, e especialmente o do Minho, fez deste hino a sua canção revolucionária, e, quando a soberania popular dava sinal da sua vitalidade, repercutiam por todo o país as notas belicosas desta «Marselhesa Portuguesa».
Eis as cantigas das ruas:
Viva a Maria da Fonte,
Com as pistolas na mão,
Para matar os Cabraes,
Que são falsos á nação.
Eia, ávante, portuguezes,
Eia, ávante, e não temer,
Pela Pátria e liberdade
Triumphar até morrer!
Viva a Maria da Fonte,
A cavalo, sem cahir,
Com as pistolas á cinta,
A tocar a reunir.
Eia, ávante, portuguezes,
Eia, ávante sem temer,
Pela Pátria e liberdade
Batalhar até morrer.
Depois de terminar a revolução, foi por muitas vezes proibido o Hino do Minho (Maria da Fonte), tanto cantado, como tocado, e até assobiado, conforme o partido que estava no poder, no regime que vigorou de 1928 a 1974, além de ser também proibido, ele era quase desconhecido.
Para terminar e em honra e glória do esforço feminino daquela mulher, transcrevo o que então o Povo lhe dedicava:
ESSA MULHER LÁ DO MINHO,
QUE DA FOUCE FEZ ESPADA,
HÁ DE TER NA LUSA HISTORIA
UMA PAGINA DOURADA.
O Autor: SOLRARO
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