sábado, 29 de maio de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (VII)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV–XV

OBSERVAÇÕES (continuação):

Para terminar, estas minhas “Observações”, não quero deixar de mencionar o que na «Introdução ao Estudo da Heráldica» do Marquês de Abrantes vem mencionado sobre tal:
Logo na página 13, encontramos o que o autor considera o estado em que a heráldica portuguesa se encontrava: «Nestes últimos tempos, porém, vimo-nos confrontados com diversos textos publicados em Portugal e que, saídos da pena de autores visivelmente desprovidos dos menores conhecimentos sobre Heráldica, vieram como que poluir o panorama cultural no que a esta tocava, visto que, no espírito dos leitores menos cultos de tais textos, todas as falsidades que eles continham corriam o risco de ser aceites como o reflexo da mais sólida verdade científica
Se a leitura prosseguir, ficamos a saber que a “Origem da Heráldica Europeia” é de ano do séc. XII e de que passando ao caso estritamente português diz-nos que: «Com efeito, e durante a época referida – meados do séc. XII a meados do XIII – as grandes linhagens dominantes portuguesas eram num número reduzido…».
O primeiro exemplo de Heráldica em Portugal (Flor-de-Liz) é atribuído a um selo do primeiro Bispo de Évora, em 1180.
Pensamos, assim, que terá sido a partir de meados do século XIII, no tempo do nosso Rei D. Afonso III, que aquilo que designamos de famílias heráldicas e que havia sido originado pela pretensão de se comemorarem as ligações de sangue ou de tipo vassálico através da composição dos brasões de armas se começou a diluir entre novos usos e costumes.
Quanto à concessão de uma Carta de Brasão de Armas (pagina 34), é do reinado de D. Fernando que dizem ter escrito a mais antiga; contudo, as Cartas de Armas ou Cartas de Brasão, só no reinado de D. Duarte se tem conhecimento de dois diplomas. No entanto, a mais antiga Carte de Armas, que chegou até aos nossos dias, é datada de 1492 pelo Rei D. João II.
Não deixa de ser curioso ler o que vem escrito na Revista Instituto, da Universidade de Coimbra, Volume 5º, páginas 174 e 175, Ano de 1857, por Francisco António Rodrigues Gusmão, sobre o título “O Escudo d’El-Rei D. Afonso Henriques e O LAÇO NACIONAL”:
«Quando principiamos as nossas investigações históricas acerca de Coimbra, e seus monumentos, tivemos curiosidade de ver o Escudo d’el-rei D. Afonso Henriques, que algumas crónicas diziam se conservava no mosteiro de Santa Cruz desta cidade. Dirigimo-nos ao padre, a cujo cargo estava a guarda de semelhantes objectos, e dele soubemos, que tão precioso monumento havia desaparecido, sem se saber como, e quando restando, apenas, a muito simples noticia, que deixara, a seu respeito, D. Nicolau de Santa Maria na «Chronica dos Cónegos Regrantes do Patriarcha S. Agostinho» - Liv. XI, cap. XXXII, pág. 513: «É de pau de figueira, forrado de coiro de boi eru oleado e pintado, e tem de comprimento cinco palmos e meio, e de largo, no mais largo, trez palmos
Não diz o cronista, quais eram as cores: asseveram-nos porém Brandão na «Monarchia» (3ª parte, lib. 10, cap. 7) e Faria no seu «Epitom.» (3ª part. Cap. 1, n. ultim.), que era branco, assentando nele uma cruz azul daquele feitio, a que chamam potentéa, por ter a haste mais comprida que os braços.
Nas cortes – gerais, extraordinárias, e constituintes da Nação Portuguesa de 1821, em sessão de 14 de Agosto, propôs o Sr. Miranda se expedisse um decreto, em que se declarasse, que o laço nacional seria, de ali por diante, das duas cores verde – salsa e amarelo de ouro; procedendo, talvez, a proposta de tais cores haverem sido as duas antigas armas do reino de Portugal que, segundo Villas – Boas na sua «Nobiliarchia Portugueza» (cap. 21, pag. 195), eram representadas por uma cidade branca em campo azul sobre um mar de ondas verde e douradas.
Na sessão de 21 do dito mês, vencendo-se que entrasse em discussão esta proposta, fizeram-se algumas reflexões sobre as cores indicadas, e o Sr. Trigoso propôs, que fossem branca e azul, empregadas no escudo d’el – rei D. Afonso Henriques: o que foi aprovado e decretado.» (R. de Gusmão)
Aqui termino estas minhas “OBSERVAÇÕES” que julgo terem sido esclarecedoras das incongruências em algumas das afirmações que se encontram nos “900 Anos de Paços de Brandão”; deixo ao critério das autoridades desta terra ou aos investigadores da nossa história local a sua rectificação.
Julgo ter contribuído para uma melhor compreensão das raízes desta terra, que aliás está profusamente ilustrada por diversos documentos a que me referi; vou continuar este trabalho, ainda no que se refere à Idade Média, em artigos futuros, dando conhecimento do relacionamento com Grijó, Pedroso, Malta, Terras de Santa Maria/Feira, sem contudo deixar de me referir à formação do Condado Portucalense e ao nosso Rei D. DINIS, que é tão mal tratado pelo Sr. Pde. Correia nos “900 Anos de Paços de Brandão”.

(continua)

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