Introdução:
Quando se pretende escrever ou simplesmente falar sobre a história de uma certa localidade, recorre-se, em primeiro lugar, a qualquer espécie de monografia que exista sobre esse localidade, tendo em atenção as regras que existem para tais factos e que são comuns, tanto para a história local, regional ou nacional.
Se os factos históricos que pretendemos narrar são anteriores ou se reportam à Idade Média, as dificuldades em encontrar documentos, que sirvam de suporte àquilo que vamos escrever, são enormes e por vezes de diversas e complicadas interpretações.
No que se refere às origens de Paços de Brandão, é evidente a falta de suporte documental, para muita coisa que se afirma, principalmente na única monografia que existe desta localidade, os “900 Anos de Paços de Brandão”, do Sr. Pde.Correia.
Por tal facto, tenho procurado recolher informações sobre documentos, livros, etc., que me levem a ter uma percepção mais histórica das origens de Paços de Brandão, sem preconceitos políticos ou religiosos. É este o trabalho que vou tornar público, procurando a compreensão de todos os brandoenses, aceitando as suas críticas construtivas bem como a colaboração e elucidação que me queiram prestar.
A parte que surge com mais probabilidade de ter dado origem à toponímia de PAÇOS DE BRANDÃO, surge-nos em fidalgos oriundos das Terras da Maia, pelo menos é aquela que surge com melhores suportes de documentos da Idade Média.
Em 1096, Afonso VI de Leão e Castela, constitui o Condado Portucalense, incorporando nele as terras a Sul do Minho, Condado de Portugale, e do extinto Condado de Coimbra, entregando o seu governo a seu genro o Conde D. Henrique , que tinha casado com a sua filha D. Teresa.
Se é certo que com o Conde D. Henrique vieram muitos fidalgos, guerreiros, ou simplesmente aventureiros, que o ajudaram na luta contra os mouros, não é menos certo que as Terras de Santa Maria, nas quais se inclui Paços de Brandão, já há muito tinham sido objecto de algumas presúrias, trocas, vendas, doações, testamentos, etc., entre pessoas que as possuíam e os Mosteiros, que por cá existiam, S. Salvador de Grijó, Pedroso, Arouca, etc. e de que muitos dos que originaram tais actos eram oriundos da Maia, Leça do Balio, que foi sede da Ordem do Hospital – Malta, e a quem metade dos bens da nossa igreja pertenciam (a outra era de S. Salvador de Grijó).
Verificamos que em datas muito anteriores a 1095, já esta parte das Terras de Santa Maria tinha possuidores que usavam nos seus nomes denominações como: BRANDON, BRANDILA (ANO DE 967); BLÂDO, BLÂTO (ANO DE 982); e que esta «vila» já em 1025 é chamada de «Palaciolo» e de que, em 1136, encontramos como patrono da «villa Palácios», Diogo Trutesendes (BLANDON), descendente dos referidos senhores da Maia.
É claro que FERNÃO BRANDOM, existiu no século XI, era filho de Trutesendo Venandiz (que aparece referenciado em documentos de Grijó, Malta, Livro Preto, Sta. Cruz de Coimbra, em 1075, 1080, 1084, 1092, 1099), não se sabe o nome da mãe, mas sabe-se que confirma documento do Mosteiro de Lorvão, no ano de 1131. Contudo, a sua origem é bem «portucalense», é «maiato», o que em nada tira o brilho, a fidalguia e a antiguidade à Terra de Paços de Brandão. Parece-me que o valor dos pergaminhos dos fidalgos, que foram proprietários desta terra de Paços, foram de valor muito elevado, não só quanto à sua antiguidade, mas também quanto à histórica família dos «BRANDÕES». Eles foram Patronos, Contadores e Poetas.
Se ao que ficou atrás escrito se juntar uma leitura, mais atenta, sobre HERÁLDICA, verifica-se que em 1095 seria uma data pouco previsível para que existisse o que em “900 Anos de Paços de Brandão” vem descrito na página 52: «…em 1095, aqui entrou para levantar o seu Palácio e iluminá-lo com os 5 Brandões da sua estirpe nobre.»
Quem quiser consultar o livro “Introdução ao Estudo da Heráldica”, do Marquês de Abrantes, fica a saber que a Heráldica Europeia tem a sua origem no decurso do século XII, e que só em meados dos séculos XII – XIII aparece no nosso País, referindo-se apenas a um número bastante reduzido de grandes linhagens (de Sousas, da Maia, de Bragança, de Baião e de Riba-Douro os Gascos).
Por outro lado, temos que das CARTAS DE ARMAS ou CARTAS DE BRASÃO, só se tem conhecimento de dois diplomas referentes ao reinado de D. Duarte e de que a mais antiga Carta de Armas, que chegou até aos nossos dias, é datada de 1492 pelo Rei D. João II. Fica-se com a dúvida se o que vem escrito em algumas passagens dos “900 Anos de Paços de Brandão” tem ou não rigor histórico, ou se apenas o que se encontra narrado, ou foi feito com o amor e carinho, de alguém que muito gosta da sua terra e ter considerado «lendas» como que de factos históricos se tratassem. É pena que tal tivesse acontecido, pois encontramos, naquela monografia, muito trabalho em pesquisas de documentos e a menção a muitos acontecimentos, que poderão ser muito úteis a quem se interessar pela história local de Paços de Brandão.
Antes de mais, gostava de dar os parabéns ao autor. E, se calhar, parabenizar em dobro! Por um lado felicitar o Solraro por pertencer a esta equipa!(parece-me que é a mais recente "aquisição" do Engenho), por outro e quem tem acompanhado e lido os seus comentários , aborda um tema que, do meu ponto de vista, reforça a condição de qualquer conterrâneo brandoense em ter orgulho por ser Brandoense!
ResponderEliminarEu sou um verdadeiro "aficionado" desta terra e tudo que tenha em consideração a sua notoriedade (seja a nível de história ancestral, medieval ou contemporânea)servirá, certamente, como referência para que cada um de nós veja, devidamente, identificada esta terra, por vezes tão maltratada pela forma como alguns a querem conduzir.
Anseio, verdadeiramente, pela continuidade da "série", com a certeza de que, pela qualidade narrativa do post inicial, não tenho dúvidas que aprenderemos e apreenderemos muito mais sobre Paços de Brandão!
Parabéns!
António Alves