quinta-feira, 17 de junho de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (XI)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV–XV

D. AFONSO HENRIQUES (1109–1185)


A data do nascimento do nosso 1º Rei é mencionada por alguns historiadores como tendo acontecido em 1108, 1109, 1111, etc. Também o local do seu nascimento, é objecto de diversas opiniões, uns dizem que nasceu em Guimarães, outros em Coimbra, outros ainda, que nasceu em Viseu e existe quem afirme que foi em Cárquere (Resende) que veio à luz do dia o nosso 1º Rei. O certo é que foi Egas Moniz que o criou e foi um «aio», fiel e leal, durante toda a sua vida, ao que, o próprio D. Afonso Henriques não foi estranho, pois o agraciou, entre 1128 e 1146, com diversas honrarias, de entre as quais a de Resende. D. Afonso Henriques, morre a 6 de Dezembro de 1185 e está sepultado na Igreja de Santa Cruz de Coimbra.
Em 1125, o jovem Afonso Henriques arma-se a si próprio cavaleiro, na Igreja de São Salvador, em Zamora, segundo o costume dos reis. Casou em 1146 com Mafalda de Sabóia, filha de Amadeu III de Sabóia, e do matrimónio teve os seguintes filhos:
1 – D. Sancho I (n.1154 m.1211) – 2º Rei de Portugal, casou com Dulce de Barcelona.
2 – Henrique.
3 – Sancha.
4 – Urraca, casada com Fernando de Leão.
5 – Mafalda, casada com Afonso, rei de Aragão.
6 – Teresa, casada com conde de Flandres.
Bastardos:
1 – Pedro (Grão-Mestre de Rodes)
2 – Fernando Afonso (Tenente General do Reino)
Em 1128 (24 de Junho de 1128), trava-se a batalha de S. Mamede (Guimarães), entre os partidários de D. Teresa e do Infante D. Afonso Henriques.

A BATALHA DE S. MAMEDE
Era de 1166 (1128) – D. Teresa, viúva e sucessora de D. Henrique, publicamente amancebada com o conde galego Fernando Peres, deu com os seus escândalos pretexto para uma revolta, pondo em risco a conservação dos vastos domínios herdados de D. Henrique, seu marido. É claro que os motivos eram outros. Os infortúnios da Regina de Portugal, principalmente o de 1127, em que perdeu o domínio dos territórios de Campos e da Galiza, para o seu sobrinho leonês, com reconhecimento e vassalagem prestada, acabou por decidir a sublevação dos barões, que encontraram motivo suficiente para se erguerem contra D. Teresa.
O Infante Afonso Henriques, de curta idade ainda, ou capitaneava ou era pendão apenas, da revolta, que tinha por chefes: os senhores da Maia, filhos de Soeiro Mendes «o Bom»; os de Riba-Douro, Egas Moniz e seus irmãos; os de Marnel, Fernando Gonçalves e seu filho Mendo; os de Sousa, Gonçalo e Soeiro; os filhos de Paio Guterres da Silva; os de Bragança; o arcebispo de Braga, D. Paio Soeiro Mendes; dois castelos, o de Neiva e o da Feira; contribuíram para o êxito do jovem príncipe, que vence e expulsa D. Teresa em 1128 e conduz, com mão firme, uma guerra em duas frentes, consolidando a autonomia de Portugal a Norte, e, alargando para sul os limites do território, com as conquistas de terras aos muçulmanos.

O Mosteiro de Santa Maria de Cárquere
O Mosteiro de Santa Maria de Cárquere era masculino e pertencia aos Cónegos Regulares de Santo Agostinho. A data da sua fundação permanece incerta, contudo em 1099, a igreja terá sido reconstruída. Estava sob a dependência do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra. Em 1146, morreu Egas Moniz de Ribadouro, deixando ao Mosteiro significativo legado em testamento.
A remota origem do Mosteiro de Santa Maria de Cárquere propícia especulações quanto à sua edificação: na época período suevo-visigótica (séc. VI-VII); durante a reconquista cristã aos mouros (séc. IX-XI); se a fundação, ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, em 1131.
A lenda associa o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere à cura do infante D. Afonso Henriques, futuro rei de Portugal. O Conde D. Henrique seria o responsável pela sua construção em agradecimento a Nossa Senhora de Cárquere, pela cura realizada nas pernas de D. Afonso Henriques. Milagre que, segundo alguns historiadores, foi um meio de encobrir a verdadeira filiação de D. Afonso Henriques.

QUANDO COMEÇOU D. AFONSO HENRIQUES A INTITULAR-SE REI?
O estudo da Idade Média, no que diz respeito ao nosso país, é provido de um grau de dificuldade muito elevado, o poder e a administração dos grandes senhores (reis, nobres, etc.), associam-se a determinadas instituições (eclesiásticas, etc.) ou privadas, a quem os monarcas faziam doações; faltando, em muitos casos, documentos fiáveis, para suporte de um estudo sério. O domínio da escrita e da cultura era atributo de poucos, era a Igreja, o seu maior detentor, é ela que nos dá a conhecer o maior número de documentos desta época «arquivos eclesiásticos».
Não é de estranhar, que em época anterior à fundação da nacionalidade, já existissem muitos arquivos eclesiásticos, uma vez que já estavam implantadas diversas instituições religiosas, antes do Condado Portucalense, em 1143. Muitos destes documentos, deram entrada, principalmente no século XIX, no Arquivo da Torre do Tombo. Contudo, a sua preservação, arquivação, as intempéries, e outras causas (desde incêndios até à sua destruição, pelos meios mais diversos), levou a desagregações irreparáveis e misturas indevidas, de documentação de distintas proveniências. Documentos há que nunca foram objecto de estudo e muito menos de divulgação da sua existência. Acontece que, por vezes, um ou outro investigador, recolhe neles, dados para os seus trabalhos, mas não têm ampla publicitação.
O acaso, como diz o Dr. Paulo Merêa, é, por vezes, um excelente amigo dos investigadores, um trabalho, «Quando Começou D. Afonso Henriques a Intitular-se Rei ?», que este ilustre historiador publicou, é bem prova do que atrás disse. Foi publicado, primeiro na revista «O Direito», depois na «Revista de Estudos Históricos», como se segue:

I
«O acaso, excelente amigo dos investigadores, deparou-me recentemente, um diploma inédito do Arquivo Nacional, uma particularidade interessante sobre o uso do título de rei pelo nosso primeiro monarca. Quando começou D. Afonso Henriques a usar nos seus diplomas o título de «rei» (rex)? É geralmente sabido que não principiou a usá-lo apenas tomou conta do governo: pelo contrário, nos primeiros anos, e ainda depois da morte da mãe, intitulou-se apenas «infante» (infans), como filho da rainha D. Teresa, e às vezes príncipe, palavra de significado vago aplicada genericamente aos indivíduos que governam algum território e que já fora usada por seu pai D. Henrique. Os dois mestres da história portuguesa antes de Herculano, António Caetano do Amaral e João Pedro Ribeiro, declaravam não conhecer nenhum documento anterior a 1140 no qual D. Afonso Henriques usasse o título de rei, e igual declaração fez Alexandre Herculano, para quem o diploma mais antigo nestas condições é uma doação de 10 de Abril desse ano que se encontra na célebre LIBER FIDEI. Note-se, porém, que não aparecia (nem aparece) nenhum documento de D. Afonso posterior a Abril de 1139 e anterior à referida doação, lacuna que Herculano explica pelo estado constante de luta, primeiro com os mouros, depois com o Imperador. Nestas condições, cumpre reconhecer que a diplomática, se não fornecia um argumento demonstrativo à tradição segundo a qual D. Afonso fora aclamado rei por ocasião da batalha de Ourique, também a não contrariava, antes de certo modo a favorecia. Isso mesmo viu Herculano, e como na sua História arredasse de vez a lenda da aclamação de Ourique, procurou relacionar com outro facto de armas – o recontro de Vai de Vez -, o facto de ter D. Afonso Henriques passado a usar o título de rei. Este «facto gravíssimo» representaria, na bem arquitectada dedução de Herculano, uma reacção contra o tratado de Tui de 1131, em que D. Afonso se vira forçado a intitular-se infante, renunciando ao título de príncipe que já anteriormente usara. Toda a sua argumentação se estriba na circunstância já assinalada de se não conhecerem documentos régios dos últimos cinco meses de 1039. Por isso ele declara expressamente que um diploma original desse período no qual D. Afonso Henriques se denominasse rei destituiria a sua hipótese. E acrescenta: «As diligências que temos feito para encontrar foram baldadas; outros serão porventura mais felizes». Ninguém depois de Herculano encontrou nenhum diploma nessas condições. Por isso, e pelo prestígio do grande Mestre, a sua opinião passou quase em julgado.

II
Não foi «um diploma original dos últimos cinco meses de 1139» que eu encontrei. Confirmou-se-me até, nas pesquisas a que tenho procedido, a falta absoluta de documentos originais de D. Afonso Henriques desde Julho de 1139 a Abril de 1140. Veio, porém, ao encontro da minha curiosidade uma espécie não menos curiosa: um pergaminho arquivado na Torre do Tombo, com data anterior à batalha de Ourique, no qual D. Afonso já se intitula rei. Proveniente de S. Cruz de Coimbra, tem a seguinte colocação: Colecção Especial, caixa nº 35 da 2ª Série, maço 4º, e encontra-se reproduzido, com ligeiras variantes de ortografia, no chamado Livro Santo, a fl. 28 e 26 v. Esta parte da Colecção Especial, «na qual se encontram os pergaminhos vindos de diversos mosteiros da Beira e Minho, recolhidos por Herculano e outros» (Azevedo e; Baião, O Arquivo da Torre do tombo, pág. 30), é das colecções do arquivo menos consultadas. O seu conteúdo acha-se publicado até ao ano de 1100 nos DIPLOMATA ET CHARTAE, mas os documentos posteriores são pouco conhecidos, e provavelmente o próprio Herculano, se os percorreu, foi muito superficialmente. O documento a que me refiro é uma doação régia (carta testamenti et ftrmitudinis) feita em Março de 1139 (mense martio era M.C.LXX.VII), portanto cerca de quatro meses antes de Ourique. D. Afonso Henriques intitula-se por duas vezes, no princípio e no fim, «portugalensium rex». É, indubitavelmente, um pergaminho do século XII e a sua autenticidade resiste, creio, ao mais escrupuloso exame diplomático. Dada a falta de documentos durante o extenso período a que acima aludi, não é de estranhar que só passado mais de um ano volta a aparecer um diploma em que D. Afonso Henriques adopte o título de rex. Tão pouco deve estranhar-se que, usando nesta data do título de rei, D. Afonso torne ainda a intitular-se princepes e infans. Também já, depois de por várias vezes se denominar rei em diplomas, correntemente aceites por bons, o nosso primeiro monarca usa apenas o título de príncipe numa doação de 1141». (Dr. Paulo Merêa)

CRONOLOGIA
1130 – 1137 – Guerras com Leão; invasão da Galiza, 1130, 1135 e 1137; fixação definitiva das fronteiras do norte (Minho) e leste, além-Douro. Pazes de Tui.
1139 – Batalha de Ourique (Julho),
1140 – Quarta invasão da Galiza; torneio ou bufúrdio e tréguas de Valdevez. Afonso Henriques toma o título de Rei.
1143 – Pazes e contrato de Zamora; reconhecimento da independência pelo Imperador de Espanha; suserania do Papa.
1147 – Conquista da linha do Tejo: Santarém (Março), Lisboa, Sintra, Palmela, Almada (Outubro e Novembro).
1151 – 7 – 8 – Três investidas contra Alcácer do Sal, afinal tomada.
1160 – Conferência de Cela – nova; tratado de limites entre Leão e Portugal, nas ulteriores conquistas aos sarracenos; fronteira do Guadiana.
1161 – Invasão sarracena: perda de Alcácer do Sal e das conquistas Além-Tejo.
1162 – Surpresa e tomada de Beja.
1165 – Idem, tomada de Évora, Moura, Serpa, Alcouchel, Cáceres, Truxilho (1166).
1166 – Derrota do infante Sancho em Arganal, pelos leoneses; última guerra de Leão; invasão frustada da Galiza.
1169 – Ataque de Badajoz, e derrota dos portugueses.
1171 – Segunda invasão sarracena; primeiro cerco de Santarém, socorro de Fernando II.
1179 – 82 – Invasões sucessivas dos sarracenos, que dominam em todo o Alentejo.
1184 – Segundo cerco de Santarém, frustado e retirada dos muçulmanos.
1185 – Morte de Afonso Henriques, sucessão de Sancho I.
1189 – Irrupção dos almorávides, rechaçada; expedição ao Algarve, tomada de Alvor e Silves (Setembro).
1191 – Invasão sarracena; perda de Silves ou de todo o Alentejo.
1195 – 1200 – Guerras de Leão.

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