quarta-feira, 9 de junho de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (VIII)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV-XV


Formação da Nacionalidade (D. TERESA, GOVERNANTE DO CONDADO PORTUCALENSE – SÉC. XII)

Dona Teresa, foi ela a mãe do nosso primeiro rei. No entanto, para além disso, esta filha de Afonso VI, foi governante, durante dezasseis anos, do território a partir do qual o reino se viria a formar. Filha de Ximenes Moniz, talvez companheira de Afonso VI, depois da morte da rainha Inês e antes deste casar com Constança de Borgonha. Os seus laços sanguíneos, foram vistos como condição suficiente para desposar o Conde Henrique de Borgonha.
De Dona Teresa, como quase de todas as suas contemporâneas, quer fossem grandes senhoras ou até rainhas, muito pouco se sabe. Os poucos documentos que existem, dão dela uma imagem, que não corresponderá decerto à sua; todos foram escritos com determinado objectivo, sem haver a particularidade de perpetuar a sua memória. Foram escritos por homens e clérigos, que para além de narrarem os feitos dos grandes reis, cavaleiros ou santos - o de ser lido ou cantado, para uma audiência que exaltava, conforme os feitos, numa lógica, em que, os santos agissem como santos, os cavaleiros como cavaleiros, as rainhas como rainhas; quando tal não acontecia, era o castigo. É neste contexto, que a imagem de Teresa, é vista por estes homens do século XII, a partir das histórias de que foi personagem.
Não nos poderemos esquecer, de que, nos inícios do século XII, o governo de um determinado território, só é assumido por uma mulher, apenas por uma estrita necessidade, inexistência ou menoridade de um herdeiro varão, que preencha legitimamente o lugar de comando ou devido à ausência prolongada do seu titular.
O casamento, na Idade Média, é visto como um acto social, um contrato entre duas famílias, motivadas por interesses precisos e em que os aspectos sentimentais poucas vezes seriam levados em conta. José Mattoso, salientou que a união entre D. Teresa (viúva do Conde D. Henrique) e Fernão Peres de Trava, não era uma questão religiosa, mas sim civil, são os textos eclesiásticos que classificam este casamento de adultério e incesto, e não os documentos do seu governo, nos quais o laço conjugal nem sequer é mencionado.
Dona Teresa, aparece nos textos historiográficos, como uma mulher com objectivos próprios estratégicos bem definidos para os alcançar. Quando o Conde D. Henrique, se alia a D. Urraca, a Condessa de Portugal, sugere ao marido, para antes de continuar a lutar ao lado de sua irmã, devia levá-la a dividir o território já conquistado, de acordo com o pacto que haviam estabelecido. É uma forma muito simples de qual devia ser o papel e a participação das grandes damas nos assuntos governativos, a sugestão e a pressão sobre os maridos ou outros homens sob cuja autoridade se encontrassem.
Teresa, já viúva, volta a entrar em cena, desta vez após a reconciliação de Urraca com Afonso de Aragão. Ao ver que a fortuna não é favorável ao que pretendia, independência do Condado Portucalense, faz saber ao Rei, que a Rainha Urraca planeava envenená-lo. O resultado é a nova separação do casal, e paz e concórdia entre Teresa e Afonso (o Batalhador).
A História Compostelana, descreve outra intriga urdida pela condessa quando, sitiada no castelo de Lanhoso pelas tropas de Urraca e Gelmires, avisa o arcebispo dos planos que a irmã fazia para o prender e oferece-lhe a sua protecção, vindo, algum tempo mais tarde, a estabelecer com ele e Afonso Raimundes uma aliança.
Após a morte de Urraca, rainha de Castela, quando alguns condes asturianos, leoneses e galegos, aproveitam para se revoltarem contra o herdeiro Afonso Raimundes, lá se encontra Dona Teresa, a Rainha de Portugal que, deixando de reconhecer a soberania de Afonso VII, poderosa em homens, almas e riqueza, resolve atacar a fronteira da Galiza.
Não é fácil encaixar um modelo de rainha do século XII no contexto peninsular e, se essa figura é Dona Teresa, mais complicado se torna. É necessário aprofundar conhecimentos da condessa, quer da realidade do seu governo, quer a nível cultural, quer nas suas relações com a igreja, saber estabelecer uma visão entre um poder feminino e saber compreender as especificidades da situação da mulher, relacionadas com a cultura da época. No meio das agitadas circunstâncias do seu breve governo, não deixou abandonadas as conveniências próprias, como dona e senhora do Estado de Portugal.

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