sábado, 12 de junho de 2010

Considerações sobre a história local - Paços de Brandão (IX)

IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV – XV

Formação da Nacionalidade (A PRESÚRIA DE PORTUGALE EM 868)

Segundo o Prof. Dr. Torquato de Sousa Soares, houve quatro acontecimentos da segunda metade do século IX, que foram os primeiros marcos da historiografia portuguesa.
1 – Morte do Rei Ordonho I e a ascensão de Afonso III ao trono, no dia de Pentecostes da era de 904 (26 de Maio de 866);
2 – A Presúria de Portugale (Porto) por Vimares Peres (868);
3 – Vinda do Rei D. Afonso, na era de 911 (873), a Vama, onde passados seis dias, morria Vímara;
4 – Presúria de Coimbra, por Ermegildo (Hermenegildo Guterres) na era de 916 (878).
PRESÚRIA – Era a apropriação de terrenos abandonados pelos seus donos, com o consentimento do soberano, neles se encontram, por vezes, os gados, os servos e tudo o que dizia respeito à lavoura. Os novos senhores, normalmente, introduziam na toponímia, profundas alterações, impondo os seus nomes (muitos de origem germânica) às «villas» de que se apossavam. É vulgar, na Galiza e no Norte de Portugal, encontrarem-se nomes de presúrias, diminuindo progressivamente até ao Mondego (Presúria de Coimbra).
As primeiras presúrias (Portugale, Coimbra) privilegiaram a ocupação de pontos estratégicos, com construções de fortalezas, onde se fixam os delegados dos reis – leoneses e, para garantirem a segurança necessária à fixação de população, e à sua defesa, mediante as incursões que os muçulmanos faziam aos territórios a Norte do Mondego.
Com a PRESÚRIA PORTUGALE, por Vímara Peres, assitiu-se ao repovoamento da região, graças ao impulso que irradiava da cidade de Portugale (Porto). Em 872-873, Vímara Peres, governa Braga. Estava pois ultrapassado, o antigo território de Portugal, incorporando-se, naquela data, Braga. Era um território, que em 871, já era bastante distinto do da Galiza.
A recolonização deste território no séc. IX foi, sobretudo, efectuada por gente Galega, não nos podemos esquecer também daqueles núcleos populacionais, que se mantiveram, nos seus domínios, através da invasão sarracena. Bom exemplo disso é o caso da «civitas Anegia», cujo território, um corredor natural, de orientação NW-SE, delimitado a Leste pelo Marão (mons Maraonis) e Montemuro (mons Muro), a Sul pelo maciço da Freita (mons Fuste), e a Oeste pela cumeada a que hoje a toponímia não confere qualquer unidade, mas a que os medievais chamavam, na margem Sul, Sena Sicca (cumeada com altitude, máxima entre 400 e os 600 m. e que culmina, na margem sul do Douro, no alto de São Domingos).
Esta cumeada, é uma última linha natural a isolar Portugal do interior e a defender o litoral de possíveis ataques vindos de Leste. Ela delimita e separa, naturalmente, a zona granítica – fértil e densamente povoada – da mancha xistosa e também carbonífera – pouco produtiva e deserta de gente. Delimitava os territórios de Anegia e Portucale (na margem Norte) e também Anegia e Sancta Maria (na margem Sul), e devia ser intensamente fortificada na Alta Idade Média.

CRONOLOGIA

868 (906) - Presúria de Portugale por Vímara Peres.
873 (911) - Vinda do rei D. Afonso a Vana, onde, passados seis dias morria Vímara.
878 (916) - Presúria de Coimbra, pelo conde Ermenegildo Guterres.
850 – 866 - Ocupação dos territórios a sul do distrito Tudense, cuja restauração já tinha sido iniciada no reinado de Ordonho I.
Era de 906 -E a Dcccc, VIª., preditus est portugale ad vimarami petri.
866 - D. Afonso III subiu ao trono. Toda a região compreendida entre o rio Lima (limite meridional do território Tudense) e uma faixa que se aproximaria do rio Vouga, estaria – não obstante a permanência de alguns insignificantes agrupamentos humanos – geralmente despovoada.
870 - Fundação do território Anegia, durante os primeiros anos do reinado de Afonso III das Astúrias.
870 – 883 -Áreas ocupadas em Cinfães, Marco de Canavezes, Castelo de Paiva, Arouca .
866 - Morte em Oviedo do conde Fruela Vermudes ou Jemundes, da Galiza, que se tinha revoltado e obrigado o jovem rei Afonso III a retirar-se para Castela.
867 – (20 de Janeiro de 867) – Afonso outorgara o seu primeiro diploma, pelo qual restituía ao bispo de Santiago bens que o usurpador, Fruela Vermudes, lhe havia confiscado.
867 - Submissão dos Vascões.
868 - Vence os muçulmanos em Leão.
868 - Conquista e destruição de Coimbra.
878 - Presúria de Coimbra.
912 - (21 de Novembro de 912) – Morte do bispo de Coimbra (Fausto), encontra-se sepultado na Igreja de Santo André de Trobe, próximo de Santiago. Governou a diocese Conimbrigense durante quarenta e cinco anos.

CONDE PEDRO DA GALIZA (PEDRO THEON) - (CT. 854 ; 867)

VIMARA PERES
Lucidio Vimaranes – Deveria ter sucedido, no governo do condado, a seu pai Vimara Peres, talvez associado a: Hermenegildo Guterres (Presor de Coimbra, avô de S. Rosendo, governador do território Tudense).
ORDONHO II
Ramiro (Governou a Região Portugalense, que incluía os territórios a Sul do Douro, com a sua capital em Viseu)
Sancho (Foi atribuída a Galiza setentrional)

SEGUNDA METADE DO SÉCULO X

Hermenegildo Gonçalves, casado c/ Mumadona Dias, Filha de Oueca Lucides, neta de Lucidio Vimaranes, Presor de Portugale. É a partir de MUMADONA DIAS, que houve uma continuidade dinástica, não obstante as discórdias e competições em que os nossos condes se viram envolvidos, e, se manteve até meados do século X; constitui pois o começo de uma afirmação de unidade governativa dentro do estado Leonês, foi a génese da nacionalidade portuguesa.
A VIMARA PERES, que apresou e restaurou, pelo menos cem anos atrás, a cidade do Porto, se deve, verdadeiramente, o nosso espírito de independência e nascimento de Portugal. «Era DccccVª. Prenditus est Portugale ad Vimara Petri» (Cartulário lambanense). Temos pois, que pelo século X, o Condado de Portugal, era governado por Mumadona Dias e seu marido Hermenegildo Gonçalves e pelos seus descendentes, durou até 1071, altura em que o Conde de Portugal foi morto numa batalha contra o rei da Galiza, que tomou posse do território.
Como já se disse, outras presúrias houve, como a de Coimbra, pelo conde Guterres em 878, e, que deu origem ao Condado de Coimbra, que foi destruído pele ofensiva de Al–Mansur em 987 – 990 (no apogeu do Califado de Córdova). Em 1064, Fernando I de Castela, reconquista Coimbra e o seu governo é entregue ao Conde Sesnando (Sesinando), um moçárabe.
O Condado e Portugalense e o Condado de Coimbra, eram a partir da última metade do século X dois poderes autónomos, do Mondego até ao Minho, que conseguiram subsistir durante dois séculos.
No ano de 995, os árabes voltaram a atacar a fronteira norte e Almançor derrotou Garcia Fernandes, rei da Galiza, que morreu na batalha. A mesma sorte teria o Califa Almançor, na sequência da batalha de Catalnasor, contra os cristãos. A última incursão árabe, antes do fim do Califado de Córdova, em terras da Galiza e de Portugal, deu-se no ano de 1007. Almudafar (filho de Almançor) entrou em terras da Galiza e por toda a parte destruiu os fortes que os cristãos haviam erigido, passou ao seu interior e ao de Portugal, regressou pelas ribeiras do Douro e chegou vencedor a Córdova.
Como a Galiza e o Norte de Portugal, até ao Mondego, passaram a estar na dependência do rei de Leão e Castela, Alfonso VI, rei de Leão (1065 – 1109) e de Castela /1072 – 1109), tomou providências para a defesa desta parte do seu território, constituindo o CONDADO PORTUCALENSE em 1096, com todas as terras a sul do rio Minho, integrando as do antigo Condado de Coimbra, e, entregando o seu governo a D. Henrique de Borgonha, casado entretanto com D. Teresa, sua filha bastarda.
O governo de Portugal ficou a constituir uma tenência hereditária, subordinada à monarquia leonesa, o que, por morte de D. Henrique, passou, sem qualquer problema, para a viúva, D. Teresa. No entanto, o espírito de autonomia, era cada vez maior, os Condes de Portugal, procuravam habilmente consolidar e alargar as suas atribuições. Os nobres portucalenses e a Igreja, organizaram-se em torno de Braga e desinteressaram-se da Cúria de Leão, não obstante as pretensões, de Santiago de Compostela e de Toledo, em manterem a hegemonia sobre esta parte da Península.
Se a língua nos unia à Galiza, politicamente evoluímos para uma região autónoma, que constitui o PORTUCALE, ganhando corpo político, através das quatro cidades mais importantes do condado:
- BRAGA, metrópole das dioceses restauradas; GUIMARÃES, corte dos condes de Portugal; PORTO, onde a preponderância da função marítima foi muito importante, para a consolidação da independência; COIMBRA, importante centro de reorganização e, durante quase um século, baluarte dos territórios cristãos.

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