domingo, 22 de novembro de 2009

A Igreja e a politica em Paços de Brandão



Notícia encontrada no DN em 19/11/2009

A freguesia da Areosa, em Viana do Castelo, está em polvorosa porque um padre, em conflito com o presidente da Junta, escreveu à população dizendo que todos "vivem no pecado há mais de 50 anos".

A carta que está a gerar controvérsia surgiu depois de, em Outubro último, o padre Manuel Quintas - reitor do Santuário de Santa Luzia - ter apelado ao voto no candidato do PS à Junta (que perdeu).

Apesar da "oposição" do padre, transmitida até em celebrações eucarísticas, António Longarito (PSD) foi reeleito. "Eu votarei António Barreiros de Carvalho", escreveu então Manuel Quintas. "É o homem de que Areosa precisa. Isto porque Areosa precisa de se encontrar consigo mesma. Precisa de saber onde começa, por onde passa e até onde vai", adiantava, num texto ilustrado com a sua fotografia e assinado pelo seu punho.

Após os resultados, o padre voltou a escrever esta semana à população: "Não me revejo em partidos (…). Se fosse obrigatório filiar-me, filiava-me no partido do Rei. Sou Monárquico e nunca o escondi", frisou, justificando o voto no socialista por ser um "homem capaz de, preto no branco, recuperar o que tantos e tantas se desleixaram em defender" - referência aos conflitos que Areosa mantém com quase todas as freguesias vizinhas sobre limites territoriais.

Denunciando "desleixo", "inoperância" e "incapacidade" na freguesia, Manuel Quintas disse que devia explicações ao "Burgo Areosense, que vive em pecado há mais de 50 anos" - afirmações que não estão a cair bem na população.

Apesar de "para já" não se pronunciar, António Longarito admitiu que a "animosidade" do padre deverá ter origem numas que a Junta fez na igreja da Areosa. "Como ele não se dá com o pároco da Areosa, certamente não gostou que eu tivesse feito obras no adro", frisou, acrescentando: "Deve ser uma questão de ciúmes."

Esta notícia passaria despercebida, não fossem algumas semelhanças, mesmo que noutros moldes, com a realidade que se vive em Paços de Brandão há largos anos.

Ainda recentemente, antes das Festas dos Arcos, bastou que se fizessem sentir alguns ecos do altar a anunciar umas correntes de ar vindas de umas frinchas de uma porta, para que a obra da vaidade dos crentes fosse imediatamente feita, mobilizando para isso todos os recursos possíveis e impossíveis ao seu dispor. Caso para dizer "Este homem quer, a obra nasce!".

Curiosamente, a responsabilidade para a execução da obra foi entregue ao que hoje é o nosso presidente de Junta, naquilo que terá sido o lançamento estratégico da sua candidatura, pelo imediatismo que gerou e pela confusão nos crentes (eleitores), houve quem jurasse em nome de um Deus menor, que terá sido este senhor o mecenas financiador da obra. Em abono da verdade todos nós (Estado) demos uma boa fatia para isto através de financiamento concedido pela autarquia de cerca de 12.500€.

Mas a questão relevante aqui é de índole moral e ético para os protagonistas. Será legítimo a um candidato (na altura já anunciado) usar a igreja para se promover? Será legítimo e ético que a Igreja, na figura dos seus representantes locais, compactuem com isto? Quais os reais interesses que envolvem os políticos e a Igreja? Porque razão a autarquia (do PSD) financia uma obra que serve apenas a vaidade e não resolve os problemas importantes, como os das tampas altas nas estradas?...e muitas mais interrogações daqui adviriam, mas fico-me aqui, e deixo esta máxima para reflexão: "a Deus o que é de Deus e aos homens o que é dos homens."


3 comentários:

  1. Em relação á noticia inicial apetece-me dizer que a população demonstrou que é independente e não se deixa influenciar pela voz da Igreja quando não compreende a sua mensagem. Só assim se explica que o padre tenha sido vencido no apoio que deu a um candidato a autarca. No entanto, quero acreditar que esta é apenas uma excepção e que a Igreja não tenta influenciar de forma tão evidente as escolhas politicas que os seus fieis fazem.
    Ao longo dos anos, na minha comunidade, a Igreja sempre teve um papel pacificador, independente e credivel. Nunca ouvi numa eucaristia qualquer referencia a partido politico, embora já tenha ouvido apelos a participação em actos eleitorais. A única excepção prendeu-se com o referendo sobre a despenalização do aborto e nesse momento considerei admissivel a intervenção do padre, baseando-se no direito á vida que a Igreja defende. Os padres são cidadãos e tem direito á sua opinião. Mas, a partir do momento em que são veiculos da palavra de Deus, devem ser prudentes, contidos e sobretudo inteligentes no que possam dizer. As palavras de um padre são naturalmente influenciadoras da acção de um crente, sobretudo porque este se dispõe a ouvir e na maioria das vezes a assimilar interiormente a fim de traduzir em acções da sua vida as ideias que recolhe numa eucaristia. Em muitas ocasiões os fieis interpretam as suas palavras como sendo as palavras de Deus. Por isso, padre que se preze e que queira continuar a ser ouvido no futuro, não deve intrometer-se na politica, pois Deus não tem partido politico. Com frequência as pessoas se sentem defraudadas com os políticos e, por isso, mudam o seu sentido de voto por não se reverem mais em determinado partido. Apoiar um partido por parte de representante da igreja seria desacreditar a Igreja. Um padre deve preocupar-se sobretudo com a saúde espiritual, psicológica e comportamental dos seus fieis e por isso, deve ser um exemplo nas suas atitudes e palavras. Só assim se torna credivel e pode influenciar positivamente o coração e espirito dos que o ouvem e seguem.
    Em relação á noticia de Paços de Brandão, pelo que li fiquei com sensação que obras da igreja foram realizadas atraves de financiamento conjunto dos fieis e autarquia. Não me repugna que um católico (seja ele quem for, incluindo um candidato politico) faça uma doação á Igreja e se disponibilize para resolver um problema. Por principio, acho positivo que os fieis se organizem e tentem de algum modo resolver os problemas. Deus julga todas as atitudes, sejam elas interesseiras aos olhos da sociedade ou não. E um politico, ou qualquer outra pessoa, está no direito de efectuar doação à Igreja e esta, como instituição privada, está no seu direito de o aceitar! No entanto, acho que os representantes da igreja devem ter o bom senso de não publicitar o valor e origem das doações. Cada um dá o que pode e o que quer, de forma anónima. A igreja não existe para que os Homens se destaquem, mas somente para que os humildes nela participem.
    O financiamento público já me perturba, sobretudo por estar relacionado com obras de uma instituição privada. É bem verdade que a Igreja também se dedica a causas sociais, designadamente no apoio aos mais desfavorecidos e desse modo substitui-se ao Estado em muitas ocasiões. No entanto, atendendo a que o financiamento de 12500 euros se destinou a obras de reparação da igreja (edificio) não me parece correcto em termos éticos, abrindo precedentes em relação a outras instituições. E não creio que a autarquia tenha o mesmo comportamento com todas as outras Instituições, sejam elas de cariz religioso ou não. Deve questionar-se a oportunidade e legitimidade deste investimento.
    Confesso que se tal financiamento se direccionasse a alguma obra social gerida pela Igreja, aplaudiria de pé, visto que a Igreja está atenta ao que se passa em seu redor e intervém positivamente na questão da pobreza, da solidão, e no apoio aos mais idosos e carenciados.
    Cumprimentos
    Fairplay

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  2. Sou católico, praticante não me revendo contudo, por exemplo no que é, ou já foi o nosso pároco. Um idoso que respeito e que gosto de ver bem tratado tal como qualquer idoso. Não mais do que isso me toca, pois a palavra de Deus ou Jesus, são para serem ditas de outra maneira. Também Jesus expulsou os vendilhões do templo e o nosso templo está cheio de vendilhões, no caso de interesses de promoção politica.
    O povo tem falta de cultura e aí se embebedam os ideais de tais senhores que acordaram para concretizar um sonho pessoal disfarçado de um dos maiores serviços prestados á humanidade, diga-se a um grupo familiar e amigos.
    Do que sei, a igreja por si é suficiente, não precisaria de dinheiros públicos para ser pintada em nome de ELREI.
    Qualquer criança depois de um missa ou sessão de catequese numa igreja menos rica, gostaria de brincar num lindo parque, bem diferente daquele que já se falou aqui no Engenho.
    Felicidades.

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  3. Neste artigo de opinião, não está colocado em causa, nem o catolicismo, nem o quão generosas são as almas católicas, aqui apenas se observa uma prática corrente encapuçada de usar a imagem da Igreja para promoção política, com a conivência de uma individualidade (pároco) que por ser influente, permite-se a estes fretes.
    O referido Sr que era candidato, deveria ter-se afastado do cargo de responsável das obras, e entregar a outra pessoa, a isso chama-se moralidade. Mas as atitudes ficam com quem as toma, e em terras mais atrasadas culturalmente este cenário é usual. Paços não é certamente caso virgem como confirmam as notícias.

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