terça-feira, 27 de abril de 2010

Inicio da Representação Teatral em Paços de Brandão 1913- 1920

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RESPIGOS DA NOSSA TERRA

O MAESTRO JOÃO LOPES TAVARES E O TEATRO MUSICAL

Depois de ter visto num jornal local, da realização no dia 17 de Abril no Salão Paroquial duma Soireé teatral, reavivou-me as décadas do século XX, onde grupos populares animaram com grande entusiasmo as noites brandoenses; do mesmo não podem ser esquecidos: Augusto Couta, João Pitança, Zé da Pinta, Armando Jerónimo, António Couta, Umbelina da Felícia, Deolinda da Esmoriza, Joaquim Rondão, entre outros, que durante os anos 20 criaram o Grupo Dramático.

Dessa altura não se pode dissociar a figura de Marques Pinto, que com a sua disponibilidade estaria durante mais de 30 anos tanto ligado ao Teatro como às Tunas, chegando diversas vezes ambas a serem cordão umbilical (das coisas ditas Amadoras), fazendo com que a nossa localidade se tornasse num centro de admiração e respeito na região.

Mas voltando ao assunto, já no ano de 1918 na localidade existia um grupo de Actores Amadores que representavam soirées na Aldeia, mais concretamente onde se encontra o Restaurante Rambóia: denominavam-se de “Grupo Dramático e Beneficente de Paços de Brandão“, o mesmo que está foto …

Este grupo teve bastantes problemas entre 1913–1916, que por acção do Abade Celestino (que era contrário a que raparigas fizessem parte do dito grupo: "raparigas não" – dizia ele) e das Beatas que faziam a sua propaganda contrária, mas de qualquer modo conseguiram a inclusão das duas raparigas e tiveram de integrar no nome o Beneficente para agradar aos ditos. Com a ida embora do dito padre, em 1916, os seguintes (Padre Rodrigo e Padre Maia) bem mais tolerantes, ajudaram na rápida implementação do grupo, criando uma onda de entusiasmo que seria engrandecido com a prestação do Maestro João Lopes Tavares. Este chegou à localidade em 1912, por convite do então presidente da Junta e contramestre da TUNA VELHA, Joaquim Macedo, e rapidamente recebeu dos brandoenses aderentes a esta tuna um apoio inusitado, criando com os da outra facção da TUNA NOVA, uma dezena de anos de conflitos e rivalidade, que dividiu a localidade…

Mas o mais caricato, se essa rivalidade existiu na Música, no Teatro deu-se o contrário. Aí havia consenso: a figura do Sr. Abade, como se lhe chamavam, e que se explica pela sua assinatura nas suas obras de SERAVAT, (Tavares ao contrário ), para alguns dos seus acérrimos o indelicado pseudónimo de Abade, por estar muito ligado ao dito Celestino, um padre ditador e de ser o maestro bastante misseiro… Mas tirando estes apartes, João Lopes, que era natural de Vilar de Andorinho, dedicou a esta terra trinta anos da sua vida artística, dedicando–lhe algumas das melhores músicas que as tunas locais repicaram nas décadas seguintes.

Em participação com o Grupo Dramático, o maestro compôs algumas peças que ainda são recordadas pelos mais idosos. Na sua ligação à corrente teatral, o João Tavares musicou algumas peças que foram representadas, contribuindo para “O Tio Pancrácio“, “Amanhã“, “Mosquitos por cordas“, “A Severa“, “A Rosa Enjeitada“, “Coroa de Flores“ e, na década de 40, com a participação de Joana Ferreira Alves aderiu a algumas peças, musicando-as para a voz da cantora , sendo a mais famosa “A Minha Aldeia“ donde foi extraída a famosa “A Minha Casinha“, canção que se tornou famosa na voz de Milú.

Na música ainda lá consta o seu nome, João Lopes, mas da letra da brandoense, Maria D. Jerónimo, essa foi sonegada e substituída; da letra constava: “as saudades que eu já tinha, da minha linda Aldeia, tão modesta como eu, pois é tão lindo morar nesse lugar, a começar vindo do Céu; as flores da minha Aldeia, tem tantas cores, como as estrelas do Céu, que sempre que lá passo, choro lágrimas saudosas, tristes ou alegres não sei. “

Pelo muito que deu a esta terra, merecia ter tido outro tratamento mas de injustiças está o inferno cheio. Em breve continuarei a falar deste assunto ou de outros que achar interessantes…

Na foto de 1918: De pé: João Pitança, Armando Jerónimo, Augusto Couta, Zé da Pinta, Augusto Jerónimo, António Couta e Joaquim Rondão; em baixo: Deolinda Ferreira, Umbelina da Felícia e a pequena Pura Rosas.

Bardo da Lira

2 comentários:

  1. Caro Bardo da Lira,

    É bom ler artigos como aquele que o Senhor acaba de publicar. Eles revelam-nos que existem pessoas nesta linda terra de Paços de Brandão, que ainda mantêm vivas recordações que em muito contribuem para uma história viva desta parte das Terras de Santa Maria.Como seria bonito encontrar estas maravilhas que o Senhor tem em seu conhecimento e tê-las visto publicar numa qualquer monografia desta terra, estou certo que se tiver vontade em tal, pode desde já contar com o meu apoio. Talvez com aquilo que tenho em meu poder, principalmente ao período da Idade Média, com a sua colaboração e dos elementos que compõem o Engenho no Papel se pudesse fazer alguma coisa bastante interessante, e, acima de tudo com rigor histórico, que é o que falta aos "900 Anos de Paços de Brandão", principalmente quanto às origens desta localidade.
    Quanto às injustiças desta terra com algumas das personalidades que têm levado bem longe o seu nome, elas são muitas, e não vejo ninguém interessado em repor tal, mas por muito que nos custe, temos que ir andando e sonhando com aquilo que de bom nos resta da vida, e, procurar as oportunidades, que nos surjam, para se levar ao conhecimento dos leitores deste blogue coisas que muitos deles desconheciam sobre a nossa terra.
    Obrigado pelo que tem escrito e espero que continue.

    SOLRARO

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  2. Concordo com comentário acima! A "joaninha de Paços de Brandão" é o exemplo máximo!!
    Deve-se a ela o facto do nome de Paços de Brandão ser conhecido em todo o País , assim como na Europa , Américas , África , etc.
    Para quando a perpetuação oficial do seu nome?Outros Países e cidades , Universidades , já o fizeram!!
    A reflectirem , "Senhores do Poder".

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