domingo, 25 de abril de 2010

36 anos de 25 de Abril - General Eanes as histórias

Faz hoje 36 anos que, em Lisboa, um grupo de capitães levava a cabo um golpe militar, que acabaria por derrubar o regime fascista vigente de Marcelo Caetano e, com isso, abrir as portas para aquilo que hoje temos como adquirido que é a democracia e a liberdade.
Uma das figuras que desempenhou um papel importante na consolidação democrática em Portugal, foi sem sombra de dúvidas o General Ramalho Eanes.Encontrava-se ainda em serviço em Angola aquando da Revolução de 25 de Abril. Regressado a Lisboa, aderiu ao Movimento das Forças Armadas. Em 1975, então com a patente de Tenente-Coronel, dirigiu as operações militares do 25 de Novembro desse mesmo ano, contra a facção mais radical do MFA. Em 1976 foi eleito Presidente da República, sendo reeleito em finais de 1980. Figura de ar sério inabalável, mas com um sentido de humor mordaz, de acordo com relatos de quem privou de perto com o General.
A história que hoje trazemos aqui ao Engenho, nesta efeméride de Abril, visa recordar a todos daquilo que é feito um grande homem! O General Eanes reproduz na perfeição aquilo que representa o espírito de Abril . Quando a classe política padece de uma doença crónica que envolve os pensamentos mais ignóbeis do ser humano, eis que nos chega uma história que eleva os grandes homens ao pedestal que merecem. No texto que abaixo transcrevemos, cujas palavras são da autoria do escritor Fernando Dacosta, fica um exemplo disso mesmo: de um grande "Homem"!

"O texto impedia que o vencimento do Chefe do Estado fosse «acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência» públicas que viesse a receber. Sem hesitar, o visado promulgou-o, impedindo-se de auferir a aposentação de militar para aqual descontara durante toda a carreira. O desconforto de tamanha injustiça levou-o,mais tarde, a entregar o caso aos tribunais que, há pouco, se pronunciaram a seu favor.
Como consequência, foram-lhe disponibilizadas as importâncias não pagas durante catorze anos, com retroactivos, num total de um milhão e trezentos mil euros. Sem de novo hesitar, o beneficiado decidiu, porém, prescindir do benefício, que o não era pois tratava-se do cumprimento de direitos escamoteados e não aceitou o dinheiro.
Num país dobrado à pedincha, ao suborno, à corrupção, ao embuste, à traficância, à ganância, Ramalho Eanes ergueu-se e, altivo, desferiu uma esplendorosa bofetada de luva branca no videirismo, no arranjismo que o imergem, nos imergem por todos os lados. As pessoas de bem logo o olharam empolgadas: o seu gesto era-lhes uma luz de conforto, de ânimo em altura de extrema pungência cívica, de dolorosíssimo abandono social. Antes dele só Natália Correia havia tido comportamento afim, quando se negou a subscrever um pedido de pensão por mérito intelectual que a secretaria da Cultura (sob a responsabilidade de Pedro Santana Lopes) acordara, ante a difícil situação económica da escritora, atribuir-lhe. «Não, não peço. Se o Estado português entender que a mereço», justificar-se-ia, «agradeço-a e aceito-a. Mas pedi-la, não. Nunca!» O silêncio caído sobre o gesto de Eanes (deveria, pelo seu simbolismo, ter aberto telejornais e primeiras páginas de periódicos) explica-se pela nossa recalcada má consciência que não suporta, de tão hipócrita, o espelho de semelhantes comportamentos.“A política tem de ser feita respeitando uma moral, a moral da responsabilidade e, se possível, a moral da convicção”, dirá. Torna-se indispensável “preservar alguns dos valores de outrora, das utopias de outrora”. Quem o conhece não se surpreende com a sua decisão, pois as questões da honra, da integridade, foram-lhe sempre inamovíveis. Por elas, solitário e inteiro, se empenha, se joga, se acrescenta acrescentando os outros.“Senti a marginalização e tentei viver”, confidenciará, “fora dela. Reagi como tímido, liderando”. O acto do antigo Presidente («cujo carácter e probidade sobrelevam a calamidade moral que por aí se tornou comum», como escreveu numa das suas notáveis crónicas Baptista-Bastos) ganha repercussões salvíficas da nossa corrompida,pervertida ética. Com a sua atitude, Eanes (que recusara já o bastão de Marechal) preservou um nível de dignidade decisivo para continuarmos a respeitar-nos, a acreditar-nos - condição imprescindível ao futuro dos que persistem em ser decentes."

1 comentário:

  1. Olá Amigos,

    Como vão longe os tempos em que ainda se acreditava em valores políticos, morais e de competência das pessoas que estavam à frente dos desígnios deste País. Elas, e, neste caso o Sr.General Ramalho Eanes, deram-nos exemplos de integridade moral, cívica e de humildade, que todos os políticos deveriam ter seguido, infelizmente, passados trinta e seis anos, temos a antítese do espírito que levou esses valorosos oficiais das nossas Forças Armadas a fazerem a Revolução dos Cravos. Veja-se o exemplo que o nosso pequenino cantinho,de Paços de Brandão, para se tirarem as mais replentes conclusões àcerca dos ideias de Abril e dos programas que os partidos, que então em Liberdade se formaram, por exemplo, o PPD (Partido Popular Democrático), com Francisco Sá Carneiro, como seu fundador, apresentava-se ao Povo Português da seguinte maneira:
    «1.1 Em 25 de Abril de 1974 o Movimento das Forças Armadas, interpretando as aspirações e os interesses da esmagadora maioria do Povo Português, e certo de empregar a força em salvação da Pátria, derrubou uma longa ditadura vazia de apoio popular, que escravizou os portugueses através da injustiça social, os sujeitou e manipolou por meio das mais variadas formas de alienação, os lançou na guera colonial e na emigração, conduzindo o país à beira da ruína. O Movimento das Forças Armadas, de acordo com os mais puros princípios democráticos, propôs-se restituir ao Povo, oprimido durante 48 anos, o exercício do direito de escolher a ordem política, económica e social em que quer viver. Abriu-se, em consequência, um novo horizonte de esperança para os portugueses, chamados a construir pelas suas mãos o seu futuro colectivo.»
    «....O respeito da dignidade de cada um como pessoa, em todas as circunstâncias, é o princípio fundamental da ordem social. E não há respeito pela dignidade humana sem liberdade, igualdade e justiça.
    Aplicando estes princípios à sociedade portuguesa, O Partido Popular Democrático afirma o primado do direito de todos os portugueses a desenvolverem livremente a sua personalidade. Em contrapartida todos devem reconhecer o mesmo direito aos seus concidadãos.»
    «....1.2 Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideais do socialismo e realizam-se na democracia. Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia.»

    Esperança e coragem de se viver em Liberdade, quanto mais não seja, de pensamento e de expressão, para que ainda se possa acreditar que o nosso País, e, em particular a nossa Terra, ainda possa um dia ver aplicados tais princípios, com que os partidos políticos nos brindaram após o 25 DE ABRIL DE 1974.

    SOLRARO

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