segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Para quando a criação de um crematório no concelho da Feira?

Um dos parâmetros para avaliar a cultura dos povos e a sua evolução é sem dúvida a forma de lidar com os seus mortos em particular e com a morte em geral. Os cemitérios são por isso reflexo das civilizações em que estão inseridos, oferecendo ao olhar mais atento, registos da sua evolução.
No cemitério os testemunhos da devoção, orgulho e recordação estão gravados em pedra e pagam um caloroso tributo à morte de um ente querido. Todavia a evolução dos tempos e das mentalidades obrigam a uma reflexão séria sobre a temática, e é isso mesmo que se propõe este artigo de hoje no Engenho!
É do senso comum que vai chegar um dia em que não haverá terra para todos serem enterrados no cemitério Brandoense. Sendo já cada vez mais incomportável financeiramente, garantir para todos esse mesmo espaço perpétuo. Sendo que a breve trecho, apenas os mais ricos terão acesso a este privilégio, tal como o era há 5000 anos. Pegando no exemplo de terras como S. João da Madeira, a prática do sepultamento vem sendo abandonada progressivamente em detrimento da cremação. Além da poupança de espaço e dinheiro, uma vez que deixa de haver necessidade de sepultamento, consegue-se garantir totalmente que condições de higiene e ambiente são salvaguardadas. Visto que as cinzas são inertes, podendo até ser guardadas em casa, em recipiente adequado, ou mesmo depositadas directamente nas águas de rios ou do mar. Apesar de as receitas oriundas dos cemitérios serem importantes fontes de receitas para as autarquias, da qual Paços de Brandão não é alheia. E de existirem em torno da morte uma série de negócios que "florescem", seria de bom tom equacionar alternativas que garantam o tratamento adequado dos nossos entes queridos futuramente. Por isto tudo fica a seguinte interrogação:

Para quando a criação de um crematório em Santa Maria da Feira?

Para atiçar a curiosidade dos nossos leitores, reproduzimos aqui um interessante artigo sobre este tema, publicado recentemente no DN on-line.


in: DN
«A forma como os portugueses lidam com a morte está a mudar. O culto da preservação do corpo está a diminuir, como prova o aumento das cremações. E há um maior à-vontade em falar deste tema, defende o professor de Medicina Legal José Eduardo Pinto da Costa. O médico acredita que, "em relação ao passado, as pessoas começam a aceitar melhor a ideia da morte", embora "não a desejem".
Só as cremações aumentaram "400% na última década", refere Paulo Carreira da Servilusa, a empresa responsável por quatro dos 16 fornos crematórios nacionais. Também em Lisboa a cremação tem vindo a crescer e já representa metade dos funerais. Em 2009, realizaram-se 9113 funerais, dos quais 4551 foram cremações. E nos primeiros três meses de 2010 realizavam-se em média 3,9 cremações por dia, de acordo com os dados da Câmara Municipal de Lisboa, em relação aos crematórios do Alto de São João e do Cemitério dos Olivais.
A maior procura da cremação resulta de uma diminuição do culto da preservação do corpo. Também porque "antigamente a religião católica proibia a cremação e hoje já aceita", explica Pinto da Costa.
Por outro lado, "a formação dos indivíduos já não está tão condicionada pela tradição", diz o sociólogo Moisés Espírito Santo. A morte é assim "encarada de uma forma mais livre". Os portugueses têm hoje "uma angústia menor perante a morte, porque já esperam viver mais tempo e quando chegam a uma certa idade pensam que já foram recompensados por viver tantos anos", explica o especialista na área da religião.
O professor Pinto da Costa refere que o aumento dos suicídios também está ligado à forma como se encara a morte. "A relativização da morte na sociedade moderna leva ao aumento das mortes por suicídio", não esquecendo que as pessoas que pensam em acabar com a vida não têm "capacidade psicológica para lidar com os seus problemas", defende. Para Moisés Espírito Santo, "os portugueses consideram a vida como uma coisa sua e não esperam que os outros tomem decisões por si, achando-se no direito de pôr fim à vida". Ou seja, "é uma forma de decidir a própria vida".
O sociólogo sublinha outra diferença que mostra como a sociedade encara a morte "de forma mais natural": "Tirando os primeiros dias, o luto deixou de existir, mostrando uma atitude de naturalidade."
A ideia de que a morte não é o fim da existência é comum a 80% da população mundial, sublinha Pinto da Costa, coordenador do 12.º curso livre de Medicina Legal da Universidade Portucalense (ver caixa ao lado). "As pessoas não gostam deste tema e por isso imaginam, numa lógica mágico-religiosa, que existe outra vida", justifica. Esta crença ajuda também as pessoas a libertarem-se do culto do corpo, diz Pinto da Costa»

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