IDADE MÉDIA – ATÉ AO SÉC. XIV – XV
Na vila de Grijó, pertencente ao Concelho de Vila Nova de Gaia, que na Idade Média, pertencia às Terras de Santa Maria – Feira, existe o Mosteiro de São Salvador de Grijó, cujo vasto território, se estendia, principalmente, entre os rios Douro e Vouga, verificando-se a maior concentração de propriedade, num raio de cerca de 10 Km.
A história do Mosteiro de Grijó, revela-se de uma importância bastante acentuada para todos aqueles que se queiram inteirar, do que se escreveu sobre as Terras de Santa Maria (Feira), e, no que nos toca, a nós «brandoenses» ou «brandoeiros», habitantes ou naturais desta Terra de Paços de Brandão, serve para uma melhor compreensão e estudo do nosso passado, em que as origens de um povo devem ser objecto de um tratamento muito cuidado e especial, tendo-se em atenção que o que se possa escrever sobre a história de um povo ou de uma simples localidade, deve obedecer a muita clareza e rigor histórico.
O MOSTEIRO DE SÃO SALVADOR DE GRIJÓ
Na vila de Grijó, pertencente ao Concelho de Vila Nova de Gaia, que na Idade Média, pertencia às Terras de Santa Maria – Feira, existe o Mosteiro de São Salvador de Grijó, cujo vasto território, se estendia, principalmente, entre os rios Douro e Vouga, verificando-se a maior concentração de propriedade, num raio de cerca de 10 Km.
A história do Mosteiro de Grijó, revela-se de uma importância bastante acentuada para todos aqueles que se queiram inteirar, do que se escreveu sobre as Terras de Santa Maria (Feira), e, no que nos toca, a nós «brandoenses» ou «brandoeiros», habitantes ou naturais desta Terra de Paços de Brandão, serve para uma melhor compreensão e estudo do nosso passado, em que as origens de um povo devem ser objecto de um tratamento muito cuidado e especial, tendo-se em atenção que o que se possa escrever sobre a história de um povo ou de uma simples localidade, deve obedecer a muita clareza e rigor histórico.
CRONOLOGIA
912 (?) – A Guterre e Ausindo Soares, é-lhes dado pelo seu irmão Nuno Soares “O Velho”, terreno de uma herdade sua, situada no lugar de Murraceses, entre o MONTE Pedroso e Sagitela, que tinha na Comarca da Feira, onde fundam uma pequena igreja (Eclesiola).
922 - Os irmãos Guterres, e, porque se lhe juntaram outros Clérigos, fundam, junto da igreja, um Convento, em que era Prelado, com título de Abade, Guterre Soares.
1093 - A 3 de Novembro de 1093 (em alguns documentos é mencionada a data de 3 de Outubro de 1093) o Bispo de Coimbra, D. Crecónio, vem sagrar esta igreja, que é dedicada ao Salvador do Mundo. No mesmo dia, Soeiro Fromarigues, perante o Bispo, rectificou publicamente a doação e testamento de grandioso legado ao convento. Este Soeiro Fromarigues, era casado com Elvira Nunes, pais dos irmãos Guterres (família Soares.)
1093–1133 - Soeiro Fromarigues e sua mulher, Elvira Nunes, doam todas as suas fazendas e o padroado das igrejas de Argoncilhe, Perosinho, Cerzedo, Travanca da Bemposta, São Miguel de Travassô e Eyrol.
1128 - O Convento é coutado por D. Teresa.
1132 - Aderiu à Regra dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.
1135 - A reformação realizada em Santa Cruz de Coimbra, por D. Teotónio, foi seguida pelo Abade D. Paio Soares, do Mosteiro de Grijó, recebendo como reformadores, D. João Peculiar e seu sobrinho D. Pedro Rabaldiz, que chegaram em 21 de Novembro de 1135. D. Paio rejeitou o governo do Mosteiro e o título de abade, tendo o Bispo de Coimbra, mandado eleger um prelado com título de prior, sendo o primeiro eleito canonicamente, o padre D. Trutesindo.
1139 - Põe couto de D. Afonso Henriques (11 de Janeiro de 1139) é doado ao convento a Vila de Brito (S. Félix da Marinha).
1142 - Novamente, por couto de D. Afonso Henriques (13 de Julho de 1142) é doado Tarouquela (Vilar do Paraíso).
1220 - D. Sancho I, faz doação da Ermida de Nª Senhora de Vagos (Vagos– Aveiro).
1245 - O Infante D. Rodrigo Sanches, filho natural do Rei D. Sancho I, vindo mortalmente ferido, de um combate, morre às portas do convento. É enterrado com todas as honras, em 7 de Julho de 1245 (A) – Em nota à parte, vou descrever o que me foi possível apurar sobre este acontecimento. (D. Rodrigo Sanches, era filho de D. Sancho I e de D. Maria Pais – Ribeirinha).
1247 - Os cónegos, por acharem que o local era húmido e feio, transferem o convento, um pouco mais para sul do actual.
1280 - D. Maria Pães, fez doação, do Padroado e mais fazendas, que tinha na Vila de Maçãs de Dona Maria, Bispado de Coimbra.
1301 - A Infanta D. Constança Sanches, irmã do Infante D. Rodrigo Sanches, doa ao Mosteiro, uma quinta que tinha em Aveleda, duas léguas da Cidade do Porto para Norte, junto ao mar; assim como metade dos direitos reais, que tinha nas Vilas de Sarzedas e Sovereira Fermosa, do Bispado de Coimbra.
Em 1479, 1482 e 1483 – O Prior D. João Álvares era comendatário ou administrador perpétuo dos Mosteiros de Grijó e de São Jorge de Coimbra.
1517 - Era Prior de Grijó, D. João, Bispo de Safim, provedor mor do Hospital Real de Todos os Santos, reitor da Universidade de Lisboa, e do Desembargo régio.
1536-1539 - O Prior D. Bento de Abrantes, a pretexto do local ser insalubre, resolveu mudar novamente o Mosteiro, transferindo-o para a Quinta de Quebrantões, em Vila Nova de Gaia. Nem todos os cónegos estiveram de acordo com a mudança o que motivou a intervenção do Papa Pio V.
1540 - A instituição da Congregação de Santa Cruz de Coimbra, confirmada por bula do Papa Paulo III, de 26 de Fevereiro de 1540, foi precedida da reforma do Mosteiro de Santa Cruz, cometida por D. João III a Frei Brás de Barros, da Ordem de São Jerónimo e a Frei António de Lisboa, com início a 13 de Outubro de 1527, no dia de São Geraldo confessor. A esta reforma aderiram os priores de São Vicente de Fora de Lisboa, e de São Salvador de Grijó.
1542-1546 - Processo de mudança do Mosteiro do lugar de Grijó, para Vila Nova de Gaia, para a Serra do Pilar, Mosteiro de Santo Agostinho da Serra.
O descontentamento de alguns cónegos vindos de Grijó, levou-os a alcançar do Papa Pio V, uma bula de separação entre os mosteiros antigo e novo (Serra do Pilar), passada em 1566. Esta estabelecia que fossem dois mosteiros distintos e que se dividissem as rendas.
1572 - O Prior D. Pedro do Salvador decidiu fazer nova igreja, com largueza adequada. É a subsistente. O projecto para a nova igreja é da autoria do arquitecto Francisco Velasques. As obras iniciaram-se em 1574. A partir de 1581, a direcção das obras passa a ser da responsabilidade de Gonçalo Vaz.
1612 - A conclusão da igreja ainda estava atrasada, mas as dependências conventuais encontravam-se praticamente concluídas.
1626 - A igreja, concluída e benzida.
1770 - É emitido o breve de Clemente XIV e beneplácito régio de 6 de Setembro de 1770, de que foi executor o Cardeal Cunha, em que Grijó foi extinto com mais nove mosteiros da Congregação e seus bens anexados ao Mosteiro de Mafra, para nele se desenvolverem os estudos.
1770 - Julga-se que foi este o ano em que foi vendido ao Desembargador João Fernandes de Oliveira.
1792 - A Bula «Expositum nobis» concedida pelo Papa Pio VI, em 3 de Abril, a instâncias da Rainha D. Maria I, foi executada por três sentenças de D. José Maria de Melo, Bispo do Algarve e Inquisidor Geral, nomeado Juiz Comissário e Delegado para proceder com todas as faculdades apostólicas, recebendo também beneplácito régio. A primeira, dada em Lisboa a 10 de Maio de 1792, mandou remover os Cónegos Regrantes do Mosteiro de Mafra para outros mosteiros da sua Congregação, restituindo-os aos religiosos da Província de Santa Maria da Arrábida, e estabeleceu que a união e distribuição dos mosteiros extintos, cujas rendas tinham estado unidas a Mafra, se fizesse em benefício dos que continuassem a existir, restitui-lhes os mosteiros extintos de São Vicente de Fora, de Grijó e provisionalmente o de Refóios de Lima, e aplicar os rendimentos dos outros a usos pios.
1794 - Segunda sentença, dada a 1 de Julho; mandou distribuir e aplicar os bens e rendimentos dos mosteiros extintos, que tinham estado unidos ao extinto Mosteiro de Mafra, ou aplicados a outros fins.
1794 - A terceira sentença, dada a 24 de Dezembro, estabeleceu os mosteiros que deviam constituir a Congregação dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho: Santa Cruz de Coimbra, São Vicente de Fora de Lisboa, Salvador de Grijó, Santo Agostinho da Serra, Santa Maria de Refóios de Lima e o Colégio da Sapiência de Coimbra, restituídos “in integrum” ao estado regular e conventual, com todos os bens, rendimentos, privilégios, isentos e padroados de que eram possuidores ao tempo da sua extinção. Estabeleceu o número prefixo de cónegos em cada um, num total de 230, exceptuando os inválidos, bem como o número de conversos e as sanções para os priores gerais infractores.
1795 - Execução da 3ª sentença, por ordem da Rainha, carta régia de 1 de Janeiro e Prior Geral, comunicou-as à Congregação por carta patente datada de 9 de Fevereiro desse ano.
1785 - Os cónegos D. Diogo da Assunção e D. Luís de Miranda Henriques, moradores no extinto mosteiro, apresentaram-se, na cidade do Porto, à chegada do Exército Libertador, onde permaneceram e foram agraciados pelo Imperador do Brasil e Duque de Bragança.
1833 - A 27 de Agosto, os deputados da Comissão Administrativa dos bens dos conventos extintos ou Comissão Administrativa dos conventos abandonados, o abade António Manuel Lopes Vieira de Castro e Francisco da Rocha Soares, na presença de Luís do Patrocínio de Nossa Senhora, cónego regular de Santo Agostinho, do Juiz imediato do couto de Grijó, e de outros elementos, procederam à descrição e inventário dos objectos existentes no mosteiro, que incluía uma hospedaria, sendo escrivão, Nicolau Joaquim Pereira, escriturário da Comissão. Em 1833, o inventário do extinto Mosteiro refere três cartórios: o cartório (cujos documentos transitaram depois, na sua maioria, para o Arquivo da Torre do Tombo e para o Arquivo Distrital do Porto), o cartório eclesiástico com documentos da freguesia de Grijó (com livros de visitação do Mosteiro, registos de testamentos, audiências, e despesas eclesiásticas, registos de termos de culpados, de ordens, de certidões de baptismo, registos de baptismo, do crisma, de casamentos, de óbitos), e das freguesias do Salvador de Perosinho, de São Mamede de Serzedo, de São Martinho de Argoncilhe, de São Miguel de Travassô, e de Santa Eulália de Eirol, e ainda o cartório do Juízo privativo do Mosteiro, contendo autos, sentenças, execuções, penhoras. O inventário menciona ainda o dinheiro, pratas e objectos, apreendidas nas imediações de Grijó, por pertencerem ao Mosteiro, acondicionados em seis baús, três caixões e cinco embrulhos, conduzidos em carros para o depósito geral do extinto Convento dos Congregados do Porto. O auto de arrombamento foi realizado na igreja da Congregação do Oratório do Porto, em 28 de Agosto de 1833, na presença dos membros da Comissão Administrativa dos bens dos conventos abandonados, em cujo inventário constam livros encadernados, papéis, e maços contendo pergaminhos.
1834 - Extinção das Ordens e Congregações Religiosas.
1835 - João Monteiro da Fonseca e Manuel Alves Ramos Camelo, empregado da comissão de extinção, procederam ao inventário do que tinha ficado no Mosteiro sob a fiscalização do provedor do concelho de Grijó, mencionando diversos papéis de pouca importância que ainda se encontravam em gavetas de uma estante do cartório.
NOTA (A) –A Morte do Infante D. Rodrigo Sanches
Referente às causas que levaram à morte do Infante D. Rodrigo Sanches, cujo túmulo se encontra no Claustro do Mosteiro de Grijó, transcrevo o que vem escrito na História de Portugal, Ed.Monumental, Direcção de Damião Peres, Vol. II, págs. 243 a 245:
«Ao infeliz Sancho II, atribuíam muitas das desgraças que assolavam o Reino, acabaria por ser destituído e o reino entregue a seu irmão D. Afonso III, “O Bolonhês”. Foi um momento de guerra civil entre partidários do Rei e os que apoiavam Afonso “Conde de Bolonha”, é pois neste cenário que se dá a Lide do Porto.
“O Conde de Bolonha” chegara a Lisboa nos últimos dias de 1245 ou nos primeiros de 1246. É de Fevereiro o foral em que confirma ao concelho de Lisboa todas as suas cartas e foros, «escritos como não escritos», em paga do bom acolhimento que lhe tinham feiro os munícipes; da sujeição e obediência que haviam prestado “aos mandados apostólicos” e dele Procurador do Reino, e com que se haviam oposto “aos inimigos da fidelidade e da injustiça”.
A resistência manifestou-se nas terras do centro e norte do País, e o seu núcleo principal estava em Coimbra, residência habitual da côrte. O homem mais representativo desse movimento de resistência, pela audácia, pela turbulência e porque tudo podia na cúria régia, visto ser o grande amigo, o valido do Rei, foi Martim Gil, o filho de Gil Vasques de Soverosa e de Maria Aires de Fornelos, que fora amante de Sancho I. A esse irrequieto rico-homem, e à sua influência perniciosa que ele exercia no espírito do infeliz Sancho II, atribuíram os contemporâneos muitas das desgraças do reino. Fora ele o protogonista duma batalha que se travara, próximo de Gaia, entre dois bandos de poderosos senhores, e que, passados anos, os velhos relembravam como um acontecimento que grandemente impressionara o País – A LIDE DO PORTO. Nela, o bando de Martim Gil tinha deixado mortos no campo os rico-homens Abril Peres, senhor de Lumiares e tenente das Terras de Riba-Tâmega, e Rodrigo Sanches, o bastardo de Sancho I, tio do rei e tenente dos distritos de Entre Douro e Lima.
A Lide do Porto deu-se em 1245, meses antes da chegada do Bolonhês, quando a conjura ia já certamente adiantada. Seria tal combate uma daquelas guerras entre nobres, tão vulgares no tempo de Sancho II ? Seria a última delas – a mais violenta, e que justamente por essa violência fosse mais uma acha, lançada pelos parciais do Rei, na fogueira da rebelião que começaria a lavrar ? Seria, como Herculano se inclina a supor, o primeiro acto, “a primeira manifestação armada” da própria revolução que devia conduzir ao mando supremo o Conde Bolonhês ? Neste pressuposto, Martim Gil de Soverosa chefiaria já as forças do rei, em oposição aos dois tenentes do norte, que teriam prometido levantar aquelas províncias.
Rodrigo Sanches ficou sepultado no Mosteiro de Grijó, próximo do Porto. E “é notável – diz Herculano numa nota – a esmola que o Conde de Bolonha faz depois ao Mosteiro de Grijó por alma de Rodrigo Sanches. É curioso na verdade que tenha perecido na famosa lide um tio do rei Sancho II, e que o chefe do bando que o matou fosse o valido desse rei, e continuasse a sê-lo, acompanhando-o depois na defesa desesperada da coroa».
BIBLIOGRAFIA
Fontes:
IANTT – Mosteiro do Salvador de Grijó
IPPAR – Mosteiro de Grijó
IANTT – Documento do Mês (2006-07-03) – Livro Preto de Grijó
Livros:
Livro das Campainhas – Prof.Dr.Jorge de Alarcão e Dr.Luís Carlos de Amaral
Le Cartulaire Baio-Ferrado du Monastère de Grijó – Robert Durand
O Mosteiro de Grijó, Senhorio e Propriedade: 1560-1729 – Drª Inês Amorim
São Salvador de Grijó na Segunda Metade do Século XIV – Dr. Luís Carlos Amaral
Artigos:
Uma Chronica Inédita – Revista da Universidade de Coimbra, “O INSTITUTO: JORNAL SCIENTIFICO E LITTERARIO”, vols. XI, XII, e XII (Ano de 1864) - publicados por M. da C. Pereira Coutinho (Estudo muito completo sobre a história do Mosteiro de São Salvador de Grijó).
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