sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Tradição de Natal em Paços de Brandão


O Natal é uma época festiva que faz as delícias das crianças (pelos brinquedos), dos adultos (pela confraternização) e dos devotos cristãos (pela comemoração do nascimento de Jesus Cristo). O Natal, em Paços de Brandão, é comemorado com o típico bacalhau, denominado na região: “Caldeirada de Penca com Bacalhau” e com os doces tradicionais (Bilharacos, Aletria, Rabanadas de Vinho Tinto, Rabanadas de Leite e Mel e Sonhos).
Mais recentemente, deu entrada na tradição de Natal, com as invasões napoleónicas, o Bolo Rei. Este é um bolo tradicional português, que se come por alturas do Natal (25 de Dezembro) até ao Dia de Reis (6 de Janeiro), numa clara alusão aos Reis Magos. De forma redonda, com grande buraco no centro, lembra uma coroa pintalgada por frutos secos e cristalizados. No interior do bolo Rei, misturado com a massa branca e fofa, encontram-se passas, frutos secos, frutas cristalizadas, além da característica fava. Diz a tradição que tem o direito a pedir um desejo quem tal fava lhe calhar em fatia (ou muitas vezes cabendo-lhe o pagamento do mesmo bolo). Inicialmente escondia-se também em cada bolo rei uma pequenina surpresa ou brinde. A inclusão de brinde foi proibida pela União Europeia, por alegados motivos de segurança, já que este é feito de metal).
O “vinho quente” (vinho servido a ferver com canela, laranja e mel) era usual beber-se em abundância por todos os presentes (incluindo crianças). Nas casas abastadas bebia-se o “Vinho Fino” – Vinho do Porto.
As Terras de Santa Maria têm uma característica muito específica na comemoração natalícia. Para muitos Brandoenses, como nós no Engenho, a ceia de Natal é no dia 25, como sempre, quando o resto do país festeja na véspera, no dia 24.
Para quem festeja no dia 24 é difícil entender o porquê dos festejos no dia seguinte. A teoria é baseada na tradição oral, no "passa palavra" ao longo dos anos, onde falta alguma consistência que corrobora a teoria da fundamentação, sendo que o mais importante é a tradição, a qual vai passando de pais para filhos. Existe, contudo, uma explicação que parece bastante consistente e que vamos passar a relatar:
Esta região, no passado e tal como hoje, era um centro de produção de rolhas para engarrafar vinhos. Parece haver uma predominância desta tradição nas freguesias a norte do Concelho de Santa Maria da Feira (Santa Maria de Lamas; Mozelos; Paços de Brandão e Fiães), ligada à transformação da cortiça, e há quem defenda que essa tradição surgiu no século XIX. Esta tradição está directamente ligada à questão dos operários da Indústria da Cortiça, que no fim do século XIX, recebiam o Bacalhau (Folha de bacalhau seca e salgada, oferecida pelo patrão) para consoada, no dia 24 ao fim da manhã, quando terminava o trabalho fabril. Como o bacalhau era salgado, mas delgado, demolhava-se durante o dia 24 e os operários esperavam pelo dia seguinte, 25 de Dezembro, para comer a consoada, denominada “Caldeirada de Bacalhau” (bacalhau cozido acompanhado de penca, batata e um molho de azeite a ferver com tomate, alho e cebola, picados). Ao longo do dia 25, a mulher preparava os doces típicos da quadra.
Esta versão, tem ainda mais lógica, por ser Dezembro uma altura de grande produção manual de rolhas de cortiça. Para expelir a produção, faziam-se grandes cargas de sacos de serapilheira, puxadas por bois, com as rolhas para exportação, que eram levadas para o cais de Gaia, onde eram transportadas com as pipas de Vinho do Porto, para serem utilizadas no engarrafamento em Inglaterra.
Existe, porém, outra versão, esta emanada pela igreja, e que diz, que nenhum aniversário pode ser comemorado antecipadamente. O povo obedecendo ao clérigo, começou a comemorar o Nascimento do Salvador depois da Missa do Galo, na Ceia de Natal. Com o tempo vulgarizou-se a refeição para o almoço do dia 25 e, posteriormente, passou a comemorar-se na noite do dia 25 de Dezembro, para dar tempo à cozinheira da família de poder fazer as guloseimas da quadra. No almoço, no dia 26, comia-se a “Roupa Velha”.
Infelizmente, esta tradição tem tendência a acabar, porque os jovens não entendem a sua utilidade e porque a vida das pessoas tem outras necessidades, corre a outro ritmo e tem novas modas…
Ano após ano, as famílias que comemoram o Natal no dia 25 diminuem. Dilui-se com o prolongamento das férias e a tradição passa despercebida. Porém, temos de encarar isto como um património Brandoense que deve também ser preservado.
Nós, no Engenho fazemos por isso, e como tal, hoje, dia 25 de Dezembro, desejamos um FELIZ NATAL A TODOS!

1 comentário:

  1. Filho de um engenho menor26 de dezembro de 2009 às 00:59

    Boa noite.
    Se pesquisar com um pouco de atenção vai encontrar informação relativa a este assunto e que refere o facto de a consoada se realizar no dia 25 apenas por aqueles que, sendo criados, faziam a sua consoada depois de servirem á mesa dos seus senhores no dia anterior.
    Diferente como em muitas outras coisas esta vila acaba por fazer consoada nos dois dias...
    Defendo a lógica de a consoada ser de 24 para 25, tal como a passagem de ano ser de 31 para 1, claro está tudo como ponto de chega as zero horas, e de partida também.
    Sobre o natal muito mais era aqui discutível mas, não quebremos a magia. Da pouca que ainda existe.
    Boas Festas..

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