De vez em quando umas páginas de humor, e sobretudo se elas partem de uma personalidade como a do Bocage, assentam muito bem a certos papagaios que por aí andam.
Solraro
O PAPAGAIO E A GALINHA !
Loquaz papagaio
Secava a guela,
Soltando mil gritos
A uma janela.
Olhou para a rua,
Por onde vagava
Galinha de pôpa,
Que depenicava.
Na língua das aves
Co'um ar superior
Lhe deu estes chascos
O vão palrador:
- Deveras, vizinha,
Que podes campar
Co'a prenda galante
De cacarejar !
Deixando ironias,
Sempre és coisa pouca,
Não tens outro chiste
Senão essa touca.
Depois de defunta
Só causas prazer,
Para te comerem
Te dão de comer,
Eu em alma e corpo
Sou ave excelente,
Não pasmes de ouvir-me
Falar como a gente ?
Não pasmo (responde
dos galos a amiga),
Vilão, carioca,
Mordaz de uma figa.
Da língua, que alegas,
Basófia concebes ?
Que importa que a fales
Se não a percebes ?
Com isso te abates
No meu parecer.
Os tolos só dizem
O que ouvem dizer...
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