segunda-feira, 23 de abril de 2012

A GUERRA PENINSULAR EM TERRAS DA FEIRA - III

Por: Carlos Varela
A GUERRA PENINSULAR
A SEGUNDA INVASÃO FRANCESA
(Os Trágicos Acontecimentos Ocorridos em Terras da Feira)


PINHEIRO DAS SETE CRUZES 
 


Conforme o que se pode ler em “O CONCELHO DA FEIRA”, Arlindo de Sousa (1944), pgs. 46/47 e respectiva nota, na parte em que diz respeito à freguesia de Mozelos: «Tem grande interesse histórico o pinheiro das sete cruzes (toponimicamente Pinheiro das Sete Cruzes), junto à estrada de Lisboa-Porto. Nele foram dependurados os cadáveres de sete portugueses, fuzilados pelos franceses da segunda invasão». Na nota que diz respeito a estas considerações diz-nos que:

«O Reverendíssimo Padre Manuel Francisco de Sá (Santa Maria de Fiães da Terra da Feira, p.93, 1939-1940) colheu valiosos dados, a respeito desta sangrenta vingança dos franceses: Vagueava por esta região um indivíduo, de má fama e piores acções, chamado Catafula. Era de Olivães, freguesia de Nogueira da Regedoura. Um dia, num esforço patriótico, matou três soldados franceses, dos muitos que passavam pela estrada real. Foi preso com outros, acusados de cumplicidade, sendo todos condenados à morte pelas autoridades militares francesas. O Catafula quis confessar-se, e foi chamado o Pde. João de Sá Rocha, capelão do convento de Monchique (Porto) que se encontrava em Anta, sua terra natal. Os franceses obrigaram o padre a revelar a confissão do Catafula, para virem ao conhecimento de todos os seus cúmplices.

O venerável Padre Rocha cumpriu nobremente o seu dever: não revelou uma só palavra da confissão do Catafula. Por isso, foi arcabuzado e pendurado no histórico «Pinheiro das Sete Cruzes» juntamente com o seu irmão Manuel, com o Catafula e mais quatro condenados. Manuel de Sá Rocha fora morto pelos franceses no sítio das Barrancas e depois arrastado até junto dos cadáveres do irmão Padre e companheiros executados.

Passados uns anos, uma sobrinha do virtuoso Pde. Rocha, de nome Francisca Alves de Sá, da Idanha (Anta), mandou construir, junto ao Pinheiro, uma capelinha em cujo retábulo mandou gravar estes dizeres:

“Aqui foram mortos pelos franceses, a 11 de Maio de 1809, o venerando Pde.João de Sá Rocha, seu irmão Manuel e outros, nascidos no lugar de Esmojães, freguesia de Anta».

Não deixa de ser curioso observar que as forças do General Inglês Wellesley, juntamente com as forças portuguesas, em princípios de Maio, estando reunidas na cidade de Coimbra, resolvam avançar em direcção ao Porto, divididas em duas colunas, sob o comando de Beresford e do próprio Welleley, uma por Viseu e Lamego, outra por Aveiro e Ovar. Wellesley, encontrou-se no dia 12 de Maio de 1809 em frente ao Porto, ao mesmo tempo que Soult organizava a retirada. Em face da data apontada pela sobrinha do Pde.Rocha, 11 de Maio de 1809, como sendo àquela do triste acontecimento e a data de 12 de Maio, em que o General Inglês já está em Vila Nova de Gaia, tendo as suas forças percorrido até lá toda esta região, parece que a data de 11 de Maio não será decerto a que corresponda aos acontecimentos registados.


« Vós que tendes sentimentos

Lembrai-vos dos nossos tormentos.

Vós que por aqui passais

Lembrai-vos de nós cada vez mais.”»


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