sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Aires de Sousa - O Mestre

O Engenho presta aqui homenagem ao saudoso Sr. Aires, que se fosse vivo teria agora a idade de 105 anos! Em Paços de Brandão continua-se teimosamente a deitar para o esquecimento os seus vultos, e o Sr. Aires é um exemplo disso. Noutras terras, e não muito longe de nós, gente com iguais predicados merece reconhecimento público, e os seus nomes ficam gravados para a posteridade ao servirem de nome a ruas, largos, praças, jardins e edifícios. Alguns merecem ainda tributo especial com bustos ou estátuas. No ano 2009, ainda no tempo do Eng. Lino Carvalho, houve necessidade de atribuir nome a pelo menos 3 ruas em Paços de Brandão, numa terra com tantos becos repetidos, e ruas cuja toponímia é  apenas um numero mecanográfico, porque não lhes atribuíram nomes de figuras marcantes da senda Brandoense tal como "Rua Aires de Sousa" ?  Estranho não acham?


Meados de Outubro de 1917...


Ano e respectivo mês de várias aparições e revoluções...


Entretanto e inocentemente, um miudo traquina de doze anos, quando andava pelos telhados da casa do Sr. Joaquim Carvalho, em Paços de Brandão, pára de repente, quando ouve de uma janela trechos de um violino a tocar... "Nabucco" de Verdi.


Costumavas dizer que «aquela música ficou-me na alma de tal forma que dei por mim a chorar». Acendeu-se uma centelha, que durou toda a tua vida... e que vida avô!! As palavras que disseste a seguir foram para o teu irmão: «Como eu gostava de saber tocar assim, como o sr. Joaquim». O teu sonho torna-se realidade pouco tempo depois. Aprendeste rápido. A música estava no teu sangue... literalmente. Teu irmão António era um grande violoncelista. Teu pai - meu bisavô - também tocava; tua mãe - a famosa "mãe Guida" fundou o grupo "Como Elas Cantam e Dançam em Paços de Brandão". Tu acreditavas «que os dedos são criados do violino». À medida que os anos foram avançando, procuras-te conciliar a tua vida familiar com a eterna paixão pelas cordas. Não eram tempos facéis. Eram tempos em que o estômago era leve como uma pena. Pelo caminho o amor criou raízes. Conheceste a mulher da tua vida enquanto brincavas com um amigo. É assim que acontece, o amor apanha-nos nos momentos mias inesperados, tornando dessa forma o sentimento mais maravilhoso. Dessa maravilhosa união nasceram doze filhos. Costumavas garantir às pessoas mais próximas que não fosse o falecimento da tua amada mulher, há trinta anos atrás, e ainda hoje estariam juntos... mas foste corajoso e heróico, tiveste aquilo a que Hemingway chamava "grace under pressure", a capacidade de manter uma certa graça na adversidade e na tragédia. Sobreviveste. Foste professor de imensos alunos. Perdias a conta aos alunos que ensinaste. Foste um autodidacta, e dessa forma, além do violino, aprendeste com a mestria que te caracterizava, a tocar o violão, contrabaixo, viola braguesa, guitarra clássica, cavaquinho e bandolim.Mas o que eu gostava mais de te ouvir tocar era o violino. Só podia ser dessa forma, porque nós percebemos claramente - como se fosse água cristalina - quando alguém se entrega a alguma coisa de forma apaixonada. E tu tocavas de olhos fechados. Tocavas arrebatadoramente. Apaixonadamente. Nos tempos livres que te restavam, além de dares as tuas aulas - que prazer imenso quando te observava a ensinar - gostavas de dar os teus passeios, a pé ou de carro, com a minha mãe - tua grande amiga - ou com os inúmeros amigos que te prezavam. Na tua terra de sempre - Paços de Brandão - começaram a festejar o teu aniversário quando tinhas noventas e poucos. Mas tu respondias sempre com a ironia fina mas fraterna que te caracterizava... foste sempre avisando que ainda tinham muito que celebrar. Até aos 102 anos quando resolveste partir. No dia do teu "último" aniversário - 06/01/07 - e quando eu já sabia que seria o último, ainda tiveste força para tocar o teu amado violino. Poucos dias depois, perto do final do mês de Janeiro, falecias. Foi durante a madrugada, rodeado de amigos e familiares. Os anjos enlevadamente levavam-te para empreenderes a tua musica. Agora celestial. A tua forma despretenciosa, justa e cheia de coragem de como encaraste a tua vida; a forma como passaste esses anos todos ricos de vida. Ricos de sentimentos. De amizades, risos e lágrimas. Cheios de amor e alegria, mas também de tristezas, imensas tristezas, porque só foste o que és porque sofreste. O que não nos derruba só nos torna mais fortes. Essa tua forma de viver, o teu exemplo é para mim uma inspiração, uma mais valia para minha vida. Não imaginarás, porventura, o privilégio e a felicidade que tenho por ter vivido contigo, convivido contigo, por ser teu neto, sangue do teu sangue. Tu costumavas-me dizer com um sorriso rasgado e sentido: «Nunca te esqueças... a vontade e o sentimento fazem milagres!».


E tinhas razão avô.


Nasceste a 06 de Janeiro de 1905, Dia dos Reis.


Cláudia Sousa

7 comentários:

  1. falar do Sr aires Sousa não é fácil, conheci-o muito bem foi com ele que aprendi as primeira posiçoes de viola à cerca de 3O anos , morava já eu em ESPINHO,quando lhe pedi se me ensinava a tocar viola, a resposta dele foi, todos os dias a partir das 21 horas podes vir.tive sempre um sonho um dia poder ter o previlégio de tocar ao lado dele, o que veio a acontecer passados 20 anos, passei a fazer parte dos musicos durante 4 anos a cantar e tocar nas janeiras para angariação das obras da nossa igreja, nunca terei palavras para agradecer a esse grande homem a esse grande brandoense, foi ímpar, foi único, era uma montanha de bondade de compreenção de querer sempre a ajudar os outros sem pensar em mais nada , que não fosse só sentir alegria de ver tambem nos seua alunos a felicidade de aprender a tocar com os ensinamentos dele, por isso sr AIRES, A MINHA GRATIDÃO NÃO TEM LIMITES, A MINHA ADMIRAÇÃO , FOI É SERÁ SEMPRE PARA TODO SEMPRE. BEM AJA TENHO A CERTEZA QUE ESTÁ NO CÉU FELIZ POR TUDO QUANTO FEZ DE BOM PARA TODOS OS SEUS ALUNOS AO LONGO DE MUIOTS ANOS. ATÉ SEMPRE SR AIRES. FERNANDO MARQUE UM BRANDOENSE E SEU AMIGO.

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  2. O Ti aires era alguém realmente extraordinário e digno desta e de outras homenagens.
    Mas nome a uma rua?
    quantas pessoas extraordinárias tivemos que nos lembremos? e noutros tempos que já não nos lembramos? e os que vamos ter ainda, será necessário fazer ruas sem utilidade só para ter uma rua para dar um nome extraordinário?
    E as ruas mais importantes são para quem? quem são os mais extraordinários dos extraordinários? e quem é o árbitro?
    Deixem-se dessas tacanheses porque as pessoas extraordinárias como o Ti Aires não eram tacanhas.

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  3. Com certeza anónimo das 19H43.Não podemos esquecer outras grandes personalidades que levaram o nome da nossa terra por esse Mundo fora. A exemplo a Joaninha e outros que deram terrenos para os pobres e esses mesmos terrenos, foram parar aos mais ricos da freguesia.Onde estão os seus nomes?

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  4. O tacanho das 19:43, como é tacanho e não faz nem fez nada que mereça ser reconhecido, acha tacanho. Era do povo o mestre, se tivesse mais umas notas no bolso, andavam a tentar dar-lhe o nome a algo. Homens com Joaquim Carvalho, Ramiro Rocha, Ramiro Relvas, Aires Sousa, são muitos os que merecem o seu nome na terra. Defendo que a justiça deva ser feita ainda vivos, mas podem e devem ser eternizados aqueles que fazem muito e pedem pouco, não os que fazem pago a troco de muito.

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  5. Saudações felinas ao Anónimo 19H43. Aqui o gato sabe que não será necessário fazer ruas sem utilidade. Já como desnecessárias, elas - as ruas, têm sido tidas pelos autárquicos (os vossos...), tal o estado em que se encontram.

    As ruas mais importantes também já possuem um toponímia interessante : Rua nº1, Rua nº2, Rua da Praça, Rua do Cinema, etc... Assim também se garante que as ruas serão todas de lugares e não de ninguém.

    É que as pessoas extraordinárias que asseguram e asseguraram o nome desta terra não merecem um cantinho que não seja no cemitério.

    Mas reserve-se lá algumas para os presidentes de Junta, que eles têm os terrenos, mas ainda não têm as ruas.

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  6. efectivamente o anónimo das 19,43, não conheceu o sr aires, e a sua grandesa e a sua obra que deixou no espírito daqueles que privaram com ele na área da musica, ele foi grande ele deu-nos a alegria ele deu-nos a sensibilidade,ele deu-nos amor, ele em cada um de nós via um filho, nunca se pôs de bicos de pés para se notabilizar em relação a quem quer que seja, mais uma vez digo a seguir ao meu Pái ele para mim foi das pessoas mais importantes da minha vida, muito obrigado sr aires, serei para todo o sempre grato por tudo quanto fez de bom para tanta gente brandoense e não só, o pecado dele foi nascer e viver pobre, mas era muito rico na sua alma. obrigado sr aires até sempre. a melhor homenagem que se lhe pode fazer é respeitar o seu nome , e prepetua-lo no nosso coração para sempre. fernando marques

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  7. Mestre Aires

    Nunca me conheceste, mas eu sempre te conheci,
    quando passava por ti em miudo, EM TODAS AS VEZES QUE TE VIA MAS TU NÃO ME VIAS sentia admiração, carinho e prazer em pertencer à terra que viu nascer um Mestre como tu.

    Obrigado meu MESTRE, sei que estás feliz no céu a FAZER O QUE SEMPRE GOSTASTE DE FAZER, TOCAR VIOLINO PARA DEUS.

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