HISTÓRIA LOCAL
Por: Carlos varela
O que poderá levar ao
conhecimento da história de um pequeno espaço, em que a vida se foi
desenvolvendo, em tempos, que quase se perdem na memória das pessoas? Primeiro
que tudo, tem que haver um certo amor a essa terra, para que se possa efectuar
a sua História Local. Depois, tem que existir uma certa curiosidade, em
conhecer a comunidade em que estamos inseridos. Não é fácil encontrar soluções
que agradem a todos, não é fácil aplicar os conceitos normais de história, sem
ferir, por vezes, certas concepções previamente estabelecidas, e, muitas vezes
descritas de tal maneira afastadas da realidade. Não é fácil fazer crer às
pessoas que outro motivo, senão o se ter encontrado um passatempo delicioso,
nos leva a pesquisar o passado de uma certa paroquia e contribuir, assim para
um melhor conhecimento do seu passado e principalmente da sua origem.
Por vezes, certas autarquias
encomendam uma Monografia da sua terra. A pessoa encarregada de a fazer, nem
sempre o faz com gosto e muitas vezes afasta-se do critério histórico. Certos
acontecimentos são narrados, de tal maneira enfatizados, e com o objectivo de
celebrarem qualquer data, que ao leitor mais atento, e, conhecedor de história,
não passará despercebido, tais imprecisões históricas.
A História Local, tem que se
servir de fontes, o que nem sempre é fácil de encontrar, mas encontradas elas
devem ser publicadas, são as provas do que se escreveu e poderão servir para
novos investigadores. Temos que ter um cuidado muito especial na análise e
crítica de fontes manuscritas, referentes à localidade que pretendemos retractar,
é que alguns autores tentam, de certa maneira, glorificar a sua terra sem
olharem a meios, em História Local, não se pode «inventar».
Um dos grandes problemas que
se encontra, e no que concerne a heráldica e genealogia, quando se investiga a
origem de uma terra, que é referenciada em documentos na idade média com um
nome, por exemplo, «Palatiolo», e, que em determinada época aparece
acrescentado com um nome patronímico, «Palaciolo Blandom» (século XIII), é
determinar o momento e as causas que levaram a que tal se operasse.
Por vezes, certos Autores de
Monografias escolhem a maneira mais fácil ou mais conveniente, de retratarem as
origens de uma Paróquia. Descrevem-nos coisas totalmente abstratas e fora da
realidade histórica, é notório tais factos se relacionarem com heráldica e
genealogia, lê-se coisas incríveis, como a de no século XI, estarem
relacionadas casas brasonadas a pessoas que lhes dão certas e determinadas
origens, sem contudo nos fornecerem qualquer suporte documental.
Nunca é demais lembrar o que
o Visconde de Sanches de Baena, nos diz em “Archivo Heraldico – Genealogico” –
Lisboa, 1872, acerca de «cartas de brasão», e do que se passou desde o seu uso
em Portugal até ao século dezanove.
Diz-nos que: «A carta de brasão de armas mais antiga que
se encontra hoje (1872) nas chancelarias dos reis de Portugal é a que foi
mandada passar a Gil Simões por el-rei D. Duarte, trinta dias antes da morte
deste monarca: o que não obsta a que, cinquenta anos antes, o uso legal das
armas de família fosse instituído e determinado por sanção régia».
Com a morte de D. Fernando,
e as lutas entre a sua filha a rainha D. Brites, casada com D. João de Castela,
e, o mestre de Aviz e rei D. João I, filho bastardo de D. Pedro I, grande parte
das famílias nobres que seguiram a opinião de Castela ficaram extintas e
acabadas de todo, e algumas que sustentaram as partes de el-rei D. João I foram
de novo levantadas a grande lugar. Estas não eram antes conhecidas; para se
acreditarem com o povo tomaram em muitas partes os apelidos e armas de outras
famílias antigas, que lhes não pertenciam. E assim diz-se que no dia da batalha
de Aljubarrota estavam as bandeiras dos aventureiros, cheias de várias armas e
insígnias, que a muitos não competiam.
É sem dúvida no reinado de
D. João I, e depois da batalha de Aljubarrota, que teve princípio em Portugal a
arte heráldica; a qual era exercida exclusivamente pelos reis de armas, arautos
e passavantes, sob a denominação de oficiais de armas.
Com os trágicos
acontecimentos do 1º de Novembro de 1755, em consequência dos incêndios que se
declararam nos prédios atingidos pelo terramoto na parte baixa de Lisboa,
perderam-se treze valiosíssimos livros do Cartório da Nobreza, em que estavam
registadas cerca de três mil cartas de brazões de armas; destas apenas cento e
cinquenta foram salvas, por se acharem copiadas em um livro particular que
estava fora do cartório, e que pertencia ao reformador de então, frei Manuel de
Santo António.
O Visconde de Sanches de
Baena, em página XVII, dos Preliminares ao livro “Archivo Heraldico –
Genealogico”, diz-nos que, «…quão imenso
é o numero de pessoas, que na actualidade (1872) se pavoneiam com brasão de
armas, na portinhola de suas carruagens, em aneis, e nos diferentes lugares em
que eles se podem colocar, isto em flagrante contravenção de todas as leis
antigas e modernas, e a despeito das penas nelas cominadas.» (Há uma lei que determina que dentro do
prazo de dois meses todas as graças e mercês regias sejam registadas no Real
Arquivo, sob pena de ficarem de nenhum efeito: mas não obstante esta disposição
poucos são os brazões, tanto de mercê nova como de sucessão, que vão ao registo
competente.).
«E
note-se que sobre todos são os titulares os que com mais ostentação incorrem
nessas penas!»
Até ao ano de 1856 existiam,
não menos, de trezentos e quinze titulares; desde então para cá tem crescido
prodigiosamente o número de titulares. É-nos referido que desde 1841 se tem
passado cento e trinta e quatro cartas de sucessão, e de mercês novas quarenta
e uma (pertencentes dezasseis destas aos anos decorridos de 1865 a 1872). São
mais as mercês novas neste período que todas as concedidas em todo o tempo
anterior da monarquia, a contar de 1438! Causa espanto e admiração como se têm
dado tantas mercês novas ultimamente a pessoas, que pela maior parte nem ao
menos alegaram haver prestado alguns serviços ao país, quando semelhantes
graças só podem ser conferidas por virtude de relevantíssimos serviços
autenticamente provados. Por um lado impõe o governo, um direito quase
proibitivo a quem quer fazer uso legal de suas armas; pois de cada carta de
brasão passada hoje entram nos cofres públicos 242$000 réis – e por outro
concede-as de um modo pouco decoroso, porque as facilita ao primeiro bem-vindo
que pode e quer pagar as despesas – a até consente, tolera e apoia que todo o
mundo as traga sem pagar nada!... Apoia, dizemos; porque em repartições
públicas, tanto eclesiásticas como civis, há chefes que usam de selos e
«signetes» com armas que ou não são suas, ou se o são não pagaram para as usar
os competentes direitos.
É neste contexto e nesta
época que, o padre José da Cruz, reformador do cartório da Nobreza, que através
de «uns títulos conservados entre papéis», e, sem qualquer outro suporte
documental, nos diz que os Brandões são originários da Normandia, pois dois
irmãos, Fernando e Carlos Brandão, de lá passaram a Portugal com o conde D.
Henrique. Cristóvão Alão de Morais, em “PEDATURA LUSITANA”, dá-lhes como origem
a Inglaterra, no entanto abre o título de Brandões com o Conde D. Pedro, «O Conde D. P.º no seu livro não faz título
particular dos Brandões, e só fala neles por razão de algumas mulheres com que
casarão». Felgueiras Gayo, em “NOBILIÁRIO DE FAMÍLIAS DE PORTUGAL”, abre o
título de “BRANDOENS”, com Gracia Martins Brandão, casado com D. Mayor Rz de
Urro (Brandoins antigos) e em Brandoens, diz-nos que: «O Primeiro de que temos notícia é de Carelos Brandão que passou a este Reino
no tempo do Conde Henrique e jaz enterrado no Mosteiro de Grijó: tomou o
Apelido de Brandão por assistir no Passo de Brandão: era o dignatário Carelos
Brandão Fidalgo Inglês.» Não nos diz com quem casou, mas aponta-lhe um filho: Martin Brandão.
Como acabamos de observar a
situação em que se encontrava a Nobiliarquia Portuguesa nos séculos XVII – XIX
era mesmo uma questão deveras complicada. O problema, já se tinha verificado no
tempo do nosso Rei D. João I, com a Restauração em 1640, veio novamente a
sofrer diversas alterações, pois os nobres partidários dos Filipes, foram
«varridos» das suas funções e os seus títulos de nobreza entregues aos partidários
do Rei D. João IV; com o terramoto de 1º de Novembro de 1755, sucedeu o que
atrás ficou relacionado; com D. Maria I, devido às invasões francesas, tudo se
deslocou com a família real para o Brasil; nas lutas entre D. Miguel I e seu
Irmão D. Pedro IV e no reinado de D. Maria II, sucedeu aquilo que o Visconde de
Sanches de Baena nos descreve; era um pântano cultural e político e como que
numa pedrada nesse charco, surge-nos o Alexandre Herculano, cujos trabalhos
históricos são, ainda hoje, de consulta obrigatória para os nossos
historiadores.
Espero que o que acabaram de
ler, sirva de reflexão, e de incentivo a uma procura mais esclarecedora em
matéria de história. Em artigo que, em breve, terão oportunidade de ler, será
dedicado, aos BRANDÕES e as suas origens e procurarei explicar o porquê de
dizerem que eles tiveram origem na Normandia, Inglaterra, França, Irlanda,
etc., e não aceitarem a sua origem em terras do actual Portugal. Procurarei
estabelecer a sua relação com a nossa Paróquia de São Cipriano de Paços de
Brandão.
Nada do que se escreve aqui é desconhecido da família Azevedo Brandão, de Paços de Brandão. O que sempre foi tradição na família é que a origem dos Brandões, de Paços de Brandão remonta, na verdade, ao cavaleiro Fernão Brandão que veio da Normandia, na companhia do conde D. Henrique. É possível que existisse um ramo de Brandões, de origem portuguesa, facto que não é inédito em outras famílias. Francisco Azevedo Brandão
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