28 de Dezembro de 2012
Ponto 7. Grandes Opções do Plano e Orçamento Municipal para 2012
Pedro Lopes de Almeida
Antes de mais, a CDU
gostaria de realçar que, uma vez mais, a Câmara não solicitou expressamente aos
grupos municipais o envio de propostas para as Grandes Opções do Plano, como
era hábito. Verificamos, lamentando-o, que as práticas de respeito pela
pluralidade democrática se têm vindo a esvaziar. Teremos, por isso, que nos
limitar a ser espectadores deste documento que nos chega às mãos aparentemente
fechado e acabado, exercendo o direito de voto em conformidade com essa
condição.
E a primeira impressão
que resulta da leitura desta Plano e Orçamento para 2013 é uma iniludível
sensação de vazio, que se prende com o tom que a Câmara deliberou adoptar neste
documento: o tom geral é de conformação, abandono da iniciativa, muitas vezes
meramente administrativo ou mesmo gestionário. O que não impede, por paradoxal
que isto possa parecer (e, de facto, é),
o culto de um registo auto-celebratório, laudativo em causa própria, balofo,
muitas vezes meramente propagandístico, onde a auto-crítica se encontra total e
absolutamente ausente. Como não podia deixar de ser, esta combinação redunda
num todo vago e impreciso, contraditório consigo mesmo, caracterizado pela
indisfarçável tentativa de empolar artificialmente uma proposta frágil,
estruturalmente debilitada, que nenhuma operação de cosmética de marketing
consegue dissimular.
Ao ler a descrição –
rigorosíssima, de resto – da actual situação social, política e económica do
país e da região, e dos constrangimentos que a linha governativa impõe à gestão
camarária, por exemplo, só nos ocorre perguntar qual é, afinal, o partido que
compõe o actual Governo...
Uma vez mais, a deadline para a conclusão do saneamento
básico foi desrespeitada. Trinta anos depois daquele primeiro dia de Alfredo
Henriques, o prazo continua a dilatar-se. Nada de novo: os folhetos das últimas
autárquicas apontavam para 2011. Não era gralha. Mas a população começa a
habituar-se à falta de rigor nos compromissos que os senhores traçam perante os
eleitores. E isso é grave.
A Ribeira de Rio Maior,
cuja obra foi dada como terminada pela SIMRIA em 2008 e entregue à Indaqua para
a construção da rede em baixa, continua a apresentar a ribeira com águas pretas
– para confirmação, bastará deslocar-se à zona junto ao Museu do Papel.
O Uíma, em Fiães,
continua a apresentar cargas de esgotos, fazendo com que o rio se apresente
saturado de poluentes, para os quais concorrem os já por nós denunciados
esgotos domésticos, e que se traduz num cheiro intenso em vários pontos do seu
curso.
A Mámoa, projecto para
cujos riscos inerentes não nos cansámos de alertar, apresenta agora caudais
pluviais insustentáveis, em boa medida graças à proximidade da Auto-estrada.
O Cáster apresenta uma
forte carga de biomassa putrefacta (isto é, lamas)
ao longo do leito, o qual dificilmente será ainda recuperável. E, já agora,
gostaríamos de saber qual o destino da proposta apresentada pelo Professor
Costa Lobo para a recuperação da ribeira do Cáster, tão pomposamente anunciada
pela Câmara?
Por outro lado, quando os
apelos à ligação da população à rede de saneamento são tão intensos quanto bem
sabem os feirenses, raiando, por vezes, os limiares da intimidação, a pergunta
que se impõe é: qual o número de escolas que se mantêm por ligar, a recorrer,
ainda, a fossas sépticas?
Do lado da rede de água,
a Câmara Municipal afirma contar com uma taxa de cobertura de 97%. Mas o que
seria interessante – e pertinente, para a correcta perspectivação do plano
estratégico a adoptar em 2013 – era estudar os números da adesão dos munícipes,
sobretudo à contraluz dos pontos negros já identificados pela CDU em momentos
anteriores (designadamente, a contaminação dos lençóis freáticos em Rio Meão e
Lourosa).
Lourosa, em cujas
pedreiras continua a arrastar-se o suplício do incumprimento. Quando a obra de
recuperação do passivo ambiental deveria ter sido iniciada em Agosto de 2011,
com um prazo de conclusão de 3 meses, as movimentações no terreno continuam, e
a obra parece longe de terminar.
Enquanto isso, a mancha
verde do município continua a perder qualidade, persistindo, um pouco por todo
o território, o abate de árvores de interesse ambiental, sem que haja, até ao
momento, um cadastro de espécies arbóreas de interesse ambiental a preservar.
Aqui deixamos, desde já, a nossa proposta no sentido da sua concretização.
Entretanto, o Executivo
enceta todos os esforços em planos-fachada na tentativa desesperada de desviar
as atenções. Os sistemas de compostagem, cuja mais valia num quadro de
políticas avançadas de valorização ambiental não pode ser colocada em questão,
apresenta-se, em Santa Maria da Feira, como o adereço de gala para uma política
inexistente. Sem folclore e sem marketing, a educação ambiental deveria tentar
ganhar as crianças em idade escolar, e incentivar, com um plano mais eficaz e
mais eficiente – que passaria pelo alargamento dos pontos de recolha selectiva,
ou pela distribuição de equipamento de triagem doméstica – , incentivar as
famílias a aderirem a um plano integrado e estrutural de valorização dos
resíduos. No entanto, nesta matéria, o Plano e Orçamento é, uma vez mais,
omisso e negligente.
Ao fim de vários anos de
funcionamento de aulas em contentores pré-fabricados, o que muitos feirenses
gostariam de saber, e a CDU solicita daqui ao Executivo que se digne a
esclarecer, é quanto já custou ao erário público o aluguer das “salas
modulares”, como refinadamente se referem aos contentores. Quanto foi já gasto,
na totalidade e por acumulação, com o aluguer destes equipamentos provisórios
que se perpetuam nos recreios das escolas? E quanta obra de requalificação
poderia esse montante ter financiado, fossem outras as prioridades do Executivo?
No plano dos transportes
escolares, o cenário repete-se: fraca cobertura, má qualidade, segurança
duvidosa, sobrelotação crónica. Perguntamos, pois: para quando um plano
integrado de requalificação e adaptação da rede de transportes escolares, correspondendo
às necessidades das famílias e garantindo um serviço de qualidade em todo o
município?
Um dos aspectos mais
relevantes da actualidade no panorama educativo, a merecer a nossa maior
consideração, prende-se com a repercussão dos efeitos da crise social e
financeira das famílias. Por todo o território multiplicam-se os casos de
desmaios durante as aulas, e calcula-se que a fome envergonhada alcance
proporções insustentáveis. A situação de pobreza que alastra em todo o país
exige um acompanhamento mais eficaz por parte da Câmara Municipal. Não chega,
já, um programa mínimo de assistencialismo. Cumpre chamar as Juntas de
Freguesia à tarefa de identificar as situações de risco potencial (sim, as
mesmas Juntas de Freguesia que o Governo PSD quer decepar, e que, pelas
competências que lhes são próprias, cumprem um papel absolutamente
insubstituível neste processo).
Ao nível do pré-escolar,
prevê-se a construção de um jardim-de-infância (no Vale). Gostaríamos de
aproveitar para perguntar, também aqui, em que estado se encontra o plano de
remoção das coberturas de fibrocimento com amianto em muitas das salas, plano
com que o Senhor Vereador Emídio Sousa se comprometera. A CDU tem conhecimento
de salas de pré-escolar onde essa cobertura altamente tóxica se mantém, e
podemos referir, entre outros, o jardim-de-infância do Farinheiro, em Fornos.
Mas o ano que agora
termina ficará inevitavelmente marcado pelo encerramento da Escola de Hotelaria
e Turismo em Santa Maria da Feira. Uma grande perda para o município, cujos
efeitos assinalámos no momento próprio, e, creio, são hoje por todos
reconhecidos. Não podemos, contudo, deixar de sublinhar as consequências
persistentes desta medida do Governo cujo partido maioritário é endossado pelo
Executivo da Câmara Municipal. Este encerramento significou uma machadada
potencialmente fatal para a economia local – para o sector da restauração,
aluguer de alojamentos, comércio local, etc. Mau grado a tentativa, por parte
da Câmara Municipal, de encontrar expedientes compensatórios, a verdade é que a
dinâmica perdida dificilmente se virá a recuperar. Assim, perguntamos: o que
perspectiva a Câmara para o futuro do sector do ensino para o sector do turismo
e restauração no município, e como pretende mitigar a perda que representou o
encerramento da Escola de Hotelaria e Turismo?
Numa outra rúbrica, a acção
social e a rede social merecem nota claramente positiva. Mas os esforços
envidados pela Câmara continuam a carecer de integração no plano político do
governo central. A diversos títulos, a Câmara da Feira substitui funções
estratégicas do governo, e, a prazo, isso pode significar o colapso de algumas
das funções sociais do Estado a nível local, o que não impediria que os
serviços municipais, pela exiguidade de meios e recursos face às tarefas de que
estamos a falar, entrasse também em situação de impossibilidade de cumprir
estas atribuições, o que significaria, a concretizar-se, a falência de
dispositivos de acção social vitais.
No plano cultural, temos
assistido ao acentuar, ano após ano, de uma retórica muito própria, cada vez
mais auto-referencial e, nalguns momentos, deliberadamente narcísica. Chegámos
agora ao ponto em que embandeira em haste com a ideia da “marca” do concelho
feirense, uma espécie de conceito-écrã bastante opaco que dissimula ou procura
dissimular algumas fragilidades evidentes na política cultural em Santa Maria
da Feira. Com efeito, não faria mal nenhum a este Pelouro preocupar-se um pouco
menos com a “marca” feirense e dedicar alguma atenção adicional aos feirenses,
nomeadamente, por um lado, ao tecido associativo local, onde persistem as
queixas pelos atrasos nos pagamentos dos subsídios devidos, e, por outro, aos
jovens públicos para a cultura, que continuam a não dispor senão de uma
política cultural enviesada, concentrada nos chamados “eventos-chave” e pouco
consolidada ao longo do ano num programa permanente e coerente desde um ponto
de vista interno.
Em suma, é possível
concluir do exposto que não estamos, uma vez mais, perante uma definição
estratégica de intervenção do poder local ao serviço das populações. As Grandes
Opções do Plano e Orçamento para 2013 espelham, ao invés, uma intensa
preocupação de auto-promoção da imagem do Executivo Municipal, uma nítida
inflação artificial das iniciativas de carácter pontual a levar a efeito, e um
preocupante silêncio relativamente a alguns dos assuntos mais sensíveis que
afectam a população feirense, configurando, em muitos aspectos, uma tentativa
de “fuga para a frente” que a realidade se encarrega de desmontar. Trata-se,
enfim, de um plano pouco ambicioso, construído sobre pressupostos
insuficientemente ancorados nas necessidades específicas do município, e que
incorre, por isso, no risco de perder a ligação à realidade para se refugiar
num construto propagandístico de utilidade duvidosa. Lamentavelmente, os pontos
fortes do trabalho realizado em várias frentes (bibliotecas, redes de apoio
social, e, em certa medida, urbanismo) não conseguem anular o efeito de opções
políticas erradas, comprometidas com os seus executores, mais do que com as
populações a quem deveriam servir.
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