O CARTULÁRIO BAIO-FERRADO DO MOSTEIRO DE GRIJÓ
Por: CARLOS VARELA
Um Cartulário, como se sabe,
é um registo de documentos de uma determinada época, referentes a uma
instituição religiosa. No caso presente, refere-se ao Mosteiro de Grijó,
séculos XI – XIII. Não me vou ocupar da historiografia do Mosteiro, mas sim
ocupar-me, de uma maneira muito simples e resumida, da importância, muito
relevante, que o Cartulário de Baio-Ferrado tem para o conhecimento da História
– Local da nossa Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão. Oportunamente a
historiografia do Mosteiro de São Salvador de Grijó, bem como o de Pedroso,
será tema de mais um artigo.
Nem sempre se encontram
documentos medievais publicados, em latim, e com tanto rigor histórico, como
aqueles que estão expressos em “LE
CARTULAIRE BAIO-FERRADO DU MONASTÈRE DE GRIJÓ”. Introdution et notes de ROBERT
DURAND – Fundação Calouste Gulbenkian (Centro Cultural Português), Paris 1971.
São, nas palavras de J. Mattoso, «riquezas escondidas, que Robert Durand põe ao
alcance dos historiadores», levam-nos a percorrer o Mosteiro de Grijó, desde 18
de Dezembro de 922 até ao ano de 1264.
É este o trabalho, de que me
vou utilizar, para dar a conhecer todas as entradas que se referem a Paços de
Brandão, não vou transcrever os documentos, contudo se alguém tiver curiosidade
em os conhecer, estou à disposição para lhes facultar a sua consulta e
respectiva leitura. Em nenhum documento deste Cartulário é referida qualquer
personalidade com o apelido de «Brandão» ou idêntico a tal, em documentos
referentes a Paços, o que, como já foi tratado, por mim, só se encontra no
Livro das Campaínhas, referente aos Fidalgos Naturais deste Mosteiro.
No entanto encontra-se no
Doc.216 de 17 de Janeiro de 1126 uma personagem com o nome de «Tructesindo
Brandiaz», referente a uma venda de Mendo Ramires e sua mulher, Godinha
Mendes, a Nuno Soares e sua mulher, Elvira Gomes, por 50 «módios», as suas
propriedades em Vermoim e quatro salinas.
No Doc. 128, de 1079, 12 de
Abril, em que Fernando e Eio Truitiz vendem a João Ataniz, por dois «bracales»
dobrados, a sua propriedade de Tarouquela, é testemunhado por:«Fernandus, ts; Brandia, ts; Didacus, ts; Pinnoo, ts. Sesnandus notuit.»
São estes os únicos
documentos em que são intervenientes pessoas, que usam nos seus nomes, Brandiaz (Doc.216 de 1126) e Brandia (Doc. 128 de 1079).
Para um melhor
esclarecimento, para aqueles menos familiarizados com estes assuntos, relaciono
documentos em que a Condessa D. Teresa é interveniente e que vem sustentar as
afirmações de que se o Conde D. Henrique, com quem era casada, tivesse doado
qualquer propriedade situada em Paços, de certeza que estaria referida neste
Cartulário e confirmada pela «regina Tharasia de Portugale», em representação
de seu pai Afonso VI de Leão e Castela.
1112, 15 de Maio – Doc. 34 –
A infanta Teresa doua a Mendo Gonçalves e a sua mulher, Maior Gonçalves, pelos
serviços prestados, os bens que possui a Crasto, (refere-se a casal de Castro
em Perosinho, junto da estrada real do Porto até o lugar de Guimarães). «In Dei nomine. Ego infans Tarasia, boni regis Alfonsi filia…»
1122, 8 de Março – Doc. 203
– A «Rainha» Teresa doua a Diogo Aires Alvane, como título de contrato (do qual
o montante se eleva a 180 «módios), dos prédios situados em Casal, Pomar Ermo
(?), Covelos e Cardielos. «In Dei nomine.
Ego regina Tarasia, boné indolis regis Adefonsi filia…»
Documentos em que se
relacionam bens, transicionados, doados ou permutados referentes a esta
Paróquia de São Cipriano de Paços de Brandão:
DATA – DOC.BAIO-FERRADO
DESCRIÇÃO
1134,
27 Junho 206 - Garcia Odoriz e sua mulher,
Sancha Pais, trocam
com Nuno Soares e sua mulher, Elvira Gomes, e
os cónegos de São Salvador, as suas terras em
Paços, por 20 «módios» e uma parte de uma terra
situada em Vila Cova. (…in ville Palatiolo…).
1135,
14 Junho 209 - Telo Alvares e sua mulher,
Ouroana Mendes,
trocam com Garcia Odoriz e sua mulher, Sancha
Pais, uma terra situada em Paços por outra em
Lavandeira. (…de hereditare nostra
própria quam
habemus in villa Palatiolo et subtus monte
Sagittella, discurrente rivulo
Maior….)
1137,
12 Fevereiro 207 - Nodario Cides e sua mulher, Elvira
Pais, vendem a
Paio Tructesendes, seu sobrinho, por 80 «módios»
a sua propriedade de Paço. (…cartam
venditionis
de hereditate nostra própria quam habemus in
villa de Palatiolo…)
1138,
29 Janeiro 56 - Boa Pais doa a São Salvador, metade de
imediato e
a
outra metade, de 1/5 de todos os bens que ela
possue
em Paços. (…, quintam scilicet partem de
omni illa quam habeo in villa
Palatiolo…)
S.d.-(depois
1138)? 80 Boa Pais e seus filhos bem como
Garcia Odoriz e
sua mulher, Sancha Pais, comprometem-se a não
alienar os seus bens sem consentimento de São
Salvador; eles
solicitam, em contrapartida, a
protecção do priorado e pedem para aí serem
sepultados.
1140,
6 Junho 94 Ouroana Tructesendes e seu marido,
Pedro Pais,
prometem a São Salvador, à sua morte, o 1/5 da sua
propriedade de Paço; eles solicitam aos cónegos e ao
priorado, auxílio e protecção;
Ouroana pede também
para ser sepultada no priorado. (…quam
habemus vel
habitu sumus in villa
de Palaciolo,…)
1141,
Junho 106 Pedro Guterres e sua mulher, Sancha
Nunes, de uma
parte, os cónegos de São Salvador, da outra, compro-
metem-se a não alienar a propriedade que eles têm em
coopropriedade em Paço, senão por mútuo acordo.
(…facimus inter nos placitum
legitimum de illa
hereditate quam habemus vel deinceps habuerimus
In villa Palatiolo…)
1141,
Junho 210
-Pedro Godins e sua mulher, Sancha Nunes, trocam com
Elvira
Gomes, os seus bens de Lavadorinhos com outro
situado em Paço.(Et accepimus aliam
hereditatem a
vobis in villa Palatiolo).
1143,
Maio 90 -Gonçalo Pais e sua mulher, confirmam o seu
testamento
em
favor de São Salvador; eles pedem, em contrapartida,
auxílio e protecção aos cónegos e aos priores, e que
sejam aí sepultados.
1143,
Abril 92 Pedido idêntico ao anterior, efectuado por
Paio Moniz e
sua
mulher, Boa Soares.
1156,
Abril 208 -Maria Mendes e seus filhos, e Paio Moniz
vendem aos
Cónegos de São Salvador, por 20 «módios», a sua
propriedade de Paço. (…de
hereditare nostra quam
habemus in villa Palatiolo…)
1159
?, Dezembro 211 -Gonçalo Soares renuncia a reivindicar
como seu, uma
parte de uma propriedade situada em Paço e pertencente
aos
cónegos de São Salvador. (Ego Gunsalvus
Suariz feci
querimoniam refi Ildefonso de hereditate
patris mei seu
avorum meorum quam vos, canonici Ecclesiole, in villa
Palatiolo tenebatis.)
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