Em 23 de Fevereiro de 1987, e após uma luta de vários anos contra a doença, que já o impedia de poder cantar, José Afonso, ou Zeca Afonso como era mais conhecido, não resistiu, e com apenas 57 anos perdeu a sua última luta e deixou-nos.
Apesar da morte do artista, ficou, fica e ficará para sempre, uma vasta e ímpar obra musical, pautada em grande medida pela nova forma de abordar o fado de Coimbra, assim como a recuperação de muitas músicas tradicionais Portuguesas. Ficou também a poesia que escreveu, e os poetas que cantou, como Camões e Pessoa.
Zeca afirmava que se inspirava no nosso povo para as suas canções, e era a partir daí que dava forma musical ao que via, ouvia e sentia.
Foi assim durante a ditadura Salazarista, ao usar a canção como "arma" para denunciar vários crimes cometidos, como foram os assassinatos de Catarina Eufémia, em 1954 (“Cantar Alentejano”) e de José Dias Coelho, em 1961 (“A Morte Saiu à Rua”).
A antiga PIDE/DGS era visada inúmeras vezes nos seus temas, como são exemplo os “Vampiros” e “Era de Noite e Levaram”, ou ainda o “Cavaleiro e o Anjo”.
A guerra colonial e as ex-colónias serviram de mote para alguns temas como são disso exemplo, “Menina dos Olhos Tristes”; “Menino do Bairro Negro” ou o “Tecto do Mendigo”.
Valores que sempre defendeu, como a solidariedade, mereceram a sua atenção, e como tal dedicou-lhes “Traz Outro Amigo Também” e “O Meu Menino é D’oiro”. Já a revolta que sentia, essa gritou-a bem alto em “ Redondo Vocábulo” ou a “Epigrafe Para Arte de furtar".
A ditadura fascista tentou silencia-lo mas sem sucesso. Foi preso por várias vezes e impedido de exercer a sua profissão de professor, mas esta repressão, aproximou-o ainda mais do povo simples, tendo encontrando em trabalhadores e nas suas lutas, nas colectividades e nos sectores mais esclarecidos a sua própria luta. Como tal, Zeca Afonso retribuía com as suas canções de esperança, que tantas vezes eram necessárias para manter a chama da luta acesa, e disso foi exemplo “Grândola Vila Morena” que nos deu a liberdade na madrugada de Abril.
Mesmo depois da ditadura, Zeca Afonso não parou de compor, de escrever, e de estar atento à vida dos mais oprimidos, continuando a inspirar-se e a inspirar lutas, em temas como os “Índios da meia praia” ou “Alípio de Freitas”.
Apesar de nem todos concordarem com as suas opções, certo é, que estas foram sempre defendidas com a sinceridade e a convicção de serem as melhores para povo, sem qualquer interesse em fama ou glória. É por isso com naturalidade que sentimos, que o exemplo cívico das suas músicas, a sua generosidade, a sua modéstia, e também as suas histórias fazem falta!
Nestes 25 anos após a sua morte, o Engenho quer aqui honrar a memória de Zeca Afonso, e com isso defender também a nossa identidade cultural, a nossa língua e a nossa música. É sentirmos que ainda podemos continuar a cantar as suas canções, as quais denunciem a destruição do nosso povo e do nosso país, como o que estão a fazer este actualmente o governo e a troika.
Mas é acima de tudo, podermos ainda dizer que o Zeca Afonso e o legado que nos deixou continua vivo e a inspirar-nos 25 anos depois!
Viva o Zeca!
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