terça-feira, 5 de outubro de 2010

O 5 DE OUTUBRO DE 1910 EM PAÇOS DE BRANDÃO

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Quando o 5 de Outubro chegou a Paços de Brandão, a junta local era liderada pelo padre Celestino, que acumulava também a função de Juiz de Paz, numa freguesia quase toda apegada á causa Monárquica, cuja imposição era ditatorial, havendo uma pequena facção que defendia a causa Republicana, mas era coisa de perseguição e de um certo ostracismo movido por alguns que se julgavam donos desta gente. Os primeiros sinais vieram da então criação do concelho de Espinho, onde por uma certa doutrina de democratas espinhenses, alguns mais iluminados pela calada, aprendiam o catecismo republicano na dita cidade com alguns leigos políticos revolucionários, que abriram algumas mentes. Desde 1906 que na nossa freguesia, os ditos Progressistas eram já uma força que começara a contrariar o poder dos então dirigentes magnânimos da nossa terra; com a chegada do dito padre em 1903 as coisas viraram para o torto, pois este era um idealista monárquico e político, encostou-se às forças favoráveis á Feira e quando em 1906 a nossa freguesia retornou ao concelho Feirense, extremaram-se as relações entre apoiantes e contrários. E quem acabou por levar por tabela foi o Comendador Leal, e por conseguinte abriu-se uma enorme fractura entre os Monárquicos, e a terra ficou dividida. Por mais estranho que pareça, 60% da população era analfabeta, mas a política era conhecida pela maioria.
Quando em 1908 aconteceu a Inauguração da Linha do Vouga, ficou evidente esta divisão, que havia chegado em 1903 com o padre Celestino, que tinha ideais políticos, chegando a exercer os cargos de presidente da junta, juiz de paz e a de padre. O problema girou em torno da sua preferência pelos membros afectos do regime Monárquico, onde se encontrava Joaquim Macedo, conflituando com os afectos á causa Republicana onde perfilava Joaquim Alves da Rocha, chegando a meter “bedelho” na Tuna, apoiando o seu preferido para ser Mestre da mesma. O caso atingiu tais proporções que conduziu ao fim da Tuna “ESTUDANTINA” no ano de 1908. Músicos apoiando cada um o seu mestre e uma rivalidade inusitada fizeram com que aparecesse a ideia de formação de outra tuna rival, sendo criada em 1909 por intermédio de Joaquim Alves da Rocha e dos seus apoiantes, a “NOVA TUNA” de Paços de Brandão. Mas um episódio acelerou tudo isto: a inauguração do então novel Caminho de Ferro da Linha do Vouga, onde as divisões entre a população ficaram evidentes, com a desavença entre o abade Celestino e o então Comendador Leal, em que o protocolo da vinda do rei D.Manuel II constituiu o maior “flop” da localidade, com uma população a aguardar a chegada do monarca e o comboio nem sequer parou! Este episódio acelerou a contestação que se seguiria da população contra o padre e o fim da tuna “Estudantina”.
Devido ao facto desta ter sido constituída durante as convulsões que conduziram á queda da Monarquia, foi apelidada de “Republicana”, mas não era totalmente verdadeira tal afirmação, porque nas suas fileiras, tanto haviam adeptos republicanos como monárquicos, em suma, uma tuna democrata! O mesmo não se podia dizer da outra tuna, porque a influência do abade Celestino e de Joaquim Macedo só permitia adeptos Monárquicos. Por essa razão quando apareceu a República muitos reaccionários não aceitaram tal cenário, sendo por isso pedra de toque de divisionismo entre a população local, que aquando da investidura da Comissão Administrativa da Nova República ficou evidente a diferença de qualidade entre ambas, pois mostrava a existência de duas tunas rivais e antagónicas.
Rebuscando os jornais da época encontrei o seguinte : “no dia 25 de Outubro de 1910 , foi nomeada para Paços de Brandão pelo Governador do Distrito, a primeira Comissão Paroquial Republicana que ia representar a freguesia e então foi nomeado para Presidente: Joaquim Teixeira Brandão, vice – presidente: José Figueiredo, Vogais: Ramiro Teixeira, António Rodrigues Amorim, Joaquim Alves Ferreira, Regedor Vitorino Dias Leite, para escrivão: José Pereira de Carvalho, como Independente. Para substitutos foram nomeados: Urbano Pinto dos Reis, Bernardino Alves da Silva, António Joaquim Carvalho da Marinheira, Augusto Sá dos Reis e João Alves Rios.
No dia 9 de Novembro de 1910 um jornal regional relatava: “ foi tomada posse a nova junta desta paróquia a comissão republicana liderada por Joaquim Teixeira Brandão, cujo acto de posse revestiu um carácter festivo. Uma enorme quantidade de povo acudiu ao Largo da Igreja para saudar a nova junta e o advento da República. Estavam presentes as duas tunas daqui com as suas bandeiras e ao ser içada a nova bandeira da república pelo novo presidente, ambas tocaram a Portuguesa, apesar da talassa amarela de alguns, foram erguidos muitos e entusiásticos vivas, correspondidos delirantemente pela multidão”. (Gazeta de Espinho).
A Junta anterior que largou o poleiro com a queda da Monarquia era a seguinte: Presidente: Padre Celestino Pinto Ferreira, Secretário: João Pereira, membros: Manuel Oliveira e Silva Júnior, Joaquim Ferreira Carvalho, Luís de Oliveira Santos e José Pereira Alves Carvalho, eleita em 1904.
No ano de 1913 o povo local amotinou-se contra o padre Celestino, que conduziria ao afastamento do mesmo no ano de 1915, tendo chegado com isso o período do Padre Rodrigo, que se tornou rapidamente adepto da Tuna Nova, abrindo uma guerrilha constante com os adeptos da Tuna Velha. Tendo como epílogo a “ fuga “ do padre em 1918 e a chegada do “reinado” do Padre Maia que duraria até 1924, sendo também nada pacifica a sua estadia que motivaria a sua expulsão da terra.
Em 1914 realizaram-se as primeiras eleições democráticas, onde os Republicanos foram derrotados pelos Monárquicos, num acto eleitoral que os derrotados reclamaram ter sido pouco honesto, mas que foram mesmo assim, aceites pelo Governo Civil, onde o aparecimento da Grande Guerra também contribuiu para este desfecho. A junta vencedora tomou então posse a 2 de Janeiro de 1914, pela mão do Presidente da Comissão Administrativa cessante: Joaquim Teixeira Brandão, entregando os destinos da freguesia à nova junta que eleita em 14 de Dezembro de 1913, constituída pelos seguintes elementos: Joaquim Ferreira Macedo, José Dias Pereira, Manuel Lourenço Cardoso, Joaquim Pereira da Silva, Joaquim Teixeira Brandão Ramiro Teixeira, (que fora Tesoureiro da Comissão cessante). No escrutínio entretanto realizado entre os elementos eleitos, elegeram para Presidente: Joaquim Macedo, Vice-presidente: José Dias Pereira. Os dois eleitos republicanos em minoria, demitiram-se por não concordância com os resultados; apesar de tudo esta junta manteve-se até 1925. Onde se foram realizando obras de grande mérito e desenvolvimento da freguesia, ficando a figura de Joaquim Macedo como o primeiro presidente eleito na república, ele que era Monárquico.
Em Dezembro de 1925, os Republicanos venceram as eleições, tomando posse a 3 de Janeiro de 1926ª junta vencedora, sendo presidente, Joaquim de Sá Alves de Oliveira, e vogais: Augusto Pereira de Sousa, José Oliveira Pais, Joaquim Dias Coelho e José de Sousa Júnior. Esta junta governaria somente 6 meses, pois a 26 de Julho de 1926, após o 28 de Maio foi dissolvida dando lugar ao Regedor, Júlio Alves da Silva e a Florentino Domingos Monteiro, Manuel Dias da Silva e ao secretário, José Pereira Alves de Carvalho e assim foi tudo “pró maneta”, onde durante quase 50 anos acabaram-se as eleições. Mas é de assinalar que o período após o 5 de Outubro de 1910, e apesar das desavenças, a freguesia de Paços de Brandão foi uma das que mais se desenvolveu em Aveiro.

Bardo da Lira

5 comentários:

  1. "Quando o 5 de Outubro chegou a Paços de Brandão, a junta local era liderada pelo padre Celestino, que acumulava também a função de Juiz de Paz, numa freguesia quase toda apegada á causa Monárquica, cuja imposição era ditatorial..."
    Qualquer semelhança com a realidade actual será pura coincidência.

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  2. Atenção o líder da junta é o Mino, mas o juiz de paz é o JB 15.

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  3. Parabéns pela pesquisa e lembrança histórica.

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  4. Afinal o Samu veio mesmo de férias. Com engenho o rapaz vai andando por aqui.

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  5. parabéns Samu, por causares tantos calafrios a rapaziada com acidez de estômago....

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