domingo, 1 de agosto de 2010

Mozelos - O Poeta desconhecido (parte 1)

Num fruto feliz do acaso na vastidão do mundo cibernético, por vezes damos de caras com agradáveis surpresas. Aquela que hoje trazemos ao Engenho, é a história de um poeta oriundo de Mozelos, e cuja vicissitude da vida o levou a partir da sua terra, e palmilhar terrenos por esse mundo fora, até parar no Rio de Janeiro - Brasil. Sendo a sua obra conhecida e reconhecida um pouco pelo mundo. Contudo, na sua terra, e no seu concelho continua completamente anónimo. Por esta razão, nós o Engenho no Papel, vamos tentar inverter este cenário dando a conhecer Fernando Oliveira, o poeta de "Goda" - Mozelos!

Fernando Oliveira - Breve apresentação do autor:

Fernando Rodrigues de Oliveira: Nasceu para os lados de Portugal, Prime, Mozelos, Vila da Feira, Aveiro em 1945, fez jornalismo desportivo enquanto jovem na Oceânia, colaborou em jornais culturais na mesma região, professor primário e ali mesmo estudou mais alguma coisa. É poeta e tradutor literário para e de o francês, inicia-se neste momento na tradução de poetas hispânicos. Trabalha poeticamente com alguns pintores. É criador do exercício poético - ver aqui -(Síntipismo). Tem actualmente um livro de poesia editado em Paris, “Versos Achados no Caminho” editado por conta do autor que pode ser consultado na Biblioteca Nacional Francesa. Não pensa editar mais por sua conta própria. Tem material para edição de mais de 20 livros de poesia. Editou duas obras colectivas nas Bienais de S. Paulo e Rio de Janeiro (Dez Rostos da Poesia Lusófona) e duas outras em Lisboa (Elos da Poesia). Tem vivido entre Paris, Rio de Janeiro e Lisboa. Tem cinco assinaturas - pseudónimos - para os seus trabalhos: Ferool, Montefrio, Antanho Esteve Calado, Theófilo de Amarante e Fernando Oliveira.
Em tempos ainda recentes criou e editou uma Revista Literária (Web); O Dono da Loja e um Jornal Literário (Web) Jornal’Ecos da Literatura Lusófona. Abandonou estes projectos por falta de tempo para os editar.
Como quase todos os que nasceram naquela altura! Comeu o pão que o diabo amassou. Pirrónico em termos doutrinais, a sua filosofia, tem areias anarquistas do mais belo índole na conjugação dos seus actos sociais. Tem a sua opinião política, mas nunca foi inscrito em partidos, nem candidato a qualquer cargo.
Ele próprio se designa como um panfletário e um batedor da coisa poética.

Contacto: ferool@gmail.com

Sobre a poiética de Fernando de Oliveira, tenho perante mim cinco caminhos. Dito de outro modo, estou diante de um poeta com cinco sentidos.
O poeta congolês Antoine Tshitungu Kongolo, escreveu uns versos que se adaptam, na circunstância, a Fernando Oliveira:
"O poeta, dorme a língua engatilhada os lábios dispostos para a insolência."

"Como os seus poemas antologiados, marginais, viajantes, com uma auto-insolência voltada para si próprio, e até um poema de amor. De sentidos vários, como uma árvore robusta que lança ramos para deles nascerem pássaros. A poesia dos cinco sentidos, ou seja, do cinco nomes do Fernando Oliveira, é como aquelas árvores que servem de referente poiético a Ruy Belo, quando nos deu a célebre proposição com pássaros e com árvores, dizendo que «os pássaros nascem na ponta das árvores». A poesia de Fernando Oliveira nasce como alguns rios do mesmo ramo principal de águas. Porque são cinco os nomes, é um pentagrama no qual a diversidade das notas faz a música, polifonia lhe poderemos chamar."
João Tomaz Parreira: é Poeta Escritor, Jornalista Free Lancer e Teólogo, Aveiro-Portugal.
"Perscruto a envergadura de Fernando Oliveira, pelo escasso entrevejo do tempo e distância que nos separa. Não é uma personagem secreta, muito pelo contrário, mostra-se uma pessoa predisposta a um estado efectivo. Para Fernando Oliveira, o indivíduo impõe-se ao colectivo, mostrando uma estima e educação própria dos herdeiros dos homens despretensiosos e grandes. Perfeccionista e ecléctico na escrita, não é um poeta fácil. Se dum lado existe o poeta só, com valências impenetráveis, do outro, está o homem-poeta, que utiliza a virilidade das palavras penetrando num universo feminino, que conhece e sabe que seduz. A sua cultura e performance brilham na força da escrita a cada parágrafo, impossibilitando o alheamento à sua personalidade e obra."
Maria da Graça Reis, Artista Plástica, Lisboa-Portugal

Nascemos casulo e morremos borboletas.
Imperceptivelmente acontece com raros mortais, que se fortificam da seiva da vida e absorvem todo o seu néctar e transcendem para uma nova dimensão. Isso não ocorre com os poetas, pois eles já nascem borboletas. E no caso de Fernando Oliveira (O Poeta das Vertentes), um fenômeno ainda mais raro se observa: ele se renova a cada instante, numa metamorfose descomunal que se fragmenta em sua eloquência, sem perder originalidade, unidade retórica e independência em seu discurso poético, retratadas em seus vários eus.
Fascina-me nesse poeta a sua absurda lucidez atemporal, que transgride as fronteiras limitadoras da nossa condição humana e despeja toda a sua voracidade poética em seus manifestos, sem perder jamais a sua sublime ternura. Sempre fiel a suas origens e a seu tempo, donde extrai suas infinitas essências, não fica acorrentado, nem estagnado a sua veia poética. Assim, sempre mantém sua eterna coerência, tornando-se universal nos seus temas.
Sofre influências da clássica literatura, mas sem, no entanto, tentar levianamente imitá-la, o que talvez seja um dos fatores de ser mal-compreendido. Por sua audaz sinceridade incomensurável, expõe em demasia a sua sensibilidade poética, sem tentar, no entanto, amenizar alguma polêmica impregnada em seus escritos. Por esse motivo, a meu ver, não pode ser classificado impreterivelmente como um dos “Poetas Malditos”, como nosso genial Augusto dos Anjos, que falava com a língua, não a dos deuses, mas do povo.
Sombra convertida em lúmen. Palavra-carvão que, do longo sono da terra, acorda de repente diamante.” Essa definição poética de Fernando José Karl não poderia ter feito melhor descrição, com profundidade e exatidão, da gênese dos sentimentos humanos, de suas mais profundas entranhas. Transcritos na arte poética que brota naturalmente nas minas rochosas do inconsciente, é garimpada por raros poetas. E não falta ao nosso Poeta das Vertentes: a aptidão incrível, que consegue naturalmente – parodiando um dos nossos maiores críticos literários, Wilson Martins – “(...) dominar todos os vaticínios linguísticos e conversa em pé de igualdade com os baluartes de seu tempo”.
"Nesta aventura transfísica, tu és o garimpeiro dos incontidos sentimentos..."
Luís Antônio Rossetto de Oliveira - Poeta e Médico Cirurgião Plástico. Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pela Unifesp-EPM, Autor do livro de poesia “A Rosa do Fim do Mundo” e de artigos científicos, S. Paulo, Brasil.


(continua)

2 comentários:

  1. Um agradecimento descomunal aos editores do Engenho; um abraço para aqueles que me lerem.

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  2. Que poeta fenomenal, vocês ainda não viram nada,pena que é desconhecido tenho um poema aqui que é de ferool:
    Se te derramares nas folhas secas
    Molhas as folhas, que de humidade
    Não necessitam
    Nada ressuscitas! Nada recrias!
    Estão inertes e absotas

    A tua essência discorre
    E corre no nada anterior
    Nada que, já não é nada! Mas tudo
    E a nausea que, já não é nada! Mas tudo
    E a náusea recomeça . Inexaurivel
    Ficaste seco e o homem canto o feito
    chora sem medo em seio. Celeiro

    Que alberga tuas mensagens
    E as conserva
    E t'as retitui quaandoa sede se abeira
    E o teu derrame é alimento que revém

    Oc as são as nossas esperanças
    Que traduzimos!
    Quando não encontram receptor
    Sustemos os sonhos por um momento

    No silêncio insonsável
    Ouviremos outros sonhos
    Para alguem que se reconhecerá neste pensamento!...


    Belo, Belíssimo!!!!

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