Nota sobre a abertura de uma grande
superfície no centro de
Santa Maria da Feira
A pouco tempo da abertura de mais uma grande superfície
comercial na cidade de Santa Maria da Feira, o PCP vem denunciar, uma vez mais,
os riscos que representa este projecto para a economia local feirense. Durante
bastante tempo o Executivo camarário PSD tentou justificar a luz verde dada a
este projecto com a promessa de uma contrapartida a ser garantida pelo grupo
SONAE, que consistiria na requalificação do espaço envolvente: a “Pedreira das
Penas”, actualmente um depósito de águas estagnadas altamente contaminadas,
onde proliferam roedores, entulho, lixo acumulado e onde, graças à existência
de materiais em decomposição, o mau cheiro atinge graus insuportáveis. Essa
contrapartida, integrada, de acordo com a Câmara Municipal, no projecto de
criação de um centro de criação de artes de rua – a tão publicitada “Caixa das
Artes” – não passou afinal de uma miragem com que os responsáveis locais do PSD
acenaram quando isso parecia servir os fins do grupo em causa.
Hoje, a requalificação da Pedreira das Penas ainda não saiu do
papel, e a única caixa à vista é a “caixa registadora”. Sem embargo da criação
de um limitado número de postos de trabalho – cujas condições laborais estão
ainda por esclarecer, prevendo-se que venha a constituir mais um exemplo de
precariedade e desprotecção laboral – é facto indesmentível que a instalação de
uma grande superfície comercial no centro da Feira representa a machadada final
no comércio local da freguesia-sede do Concelho.
Quando a Feira se encontra já notoriamente saturada de grandes
superfícies comerciais, cercada como está por “hipermercados”; quando
comércio local enfrenta um momento
particularmente difícil graças à situação económica dos trabalhadores e do povo
para onde nos empurra a actual política; quando os comerciantes feirenses lutam
pela sobrevivência num contexto de asfixia e colapso dos pequenos e médios
comerciantes (desemprego, empobrecimento dos trabalhadores, IVA a 23%, roubo
dos salários, etc.), a decisão política de autorizar a instalação de um
hipermercado no centro da Feira constitui uma gravosa irresponsabilidade, pela
qual todos os feirenses devem pedir contas à Câmara.
Acresce ainda que da riqueza resultante destas mega-lojas não
ficarão na região mais do que algumas migalhas: entretanto, o lucro será
canalizado para as fortunas dos homens mais ricos do país (e talvez conduzido
para sedes fiscais no estrangeiro, como sabemos ser hoje prática corrente...),
contribuindo assim para a extraordinária acumulação de capitais em elites
económicas cujos lucros não param de crescer de ano para ano, enquanto aqueles
que vivem apenas do seu trabalho vêem degradar-se a sua situação de dia para
dia.
Alertamos também para os riscos que traduz este projecto ao
nível da saúde pública: pretende instalar-se uma grande loja de venda de bens
alimentares a escassíssimos metros de um depósito de lixo com várias décadas –
as antigas pedreiras, com metros de profundidade de água estagnada, entulho,
lixo doméstico, velhos electrodomésticos, intenso odor, etc. – constituem um evidente
foco infeccioso, ameaçando a saúde de todos quantos vierem a frequentar aquela
superfície, e colocando em causa as condições sanitárias para o armazenamento e
venda de alimentos. À questão ambiental soma-se agora uma preocupante questão
de saúde pública.
É urgente denunciar esta opção estratégica do poder local/PSD:
a instalação de grandes superfícies detidas por monopólios comerciais não só
não salvaguarda o comércio local, como significa o fim de muitos dos
empresários, comerciantes, lojistas e retalhistas. Esta opção apenas contribui
para acentuar as assimetrias económicas e sociais, para além de configurar uma
prática lamentável e ultrapassada de invasão de um centro urbano com um bloco
de betão, implicando previsíveis congestionamentos de trânsito, aumento dos
níveis de ruído e poluição no centro da cidade, e consequente perda de
qualidade de vida, deixando, por outro lado, intocado o gravíssimo passivo
ambiental que representam as antigas pedreiras. Todos estes factores
caracterizam bem o sentido retrógrado, penalizador e irresponsável que assume o
Executivo PSD liderado por Alfredo Henriques: à imagem do actual Governo
PSD/CDS-PP, também aqui em Santa Maria da Feira os números valem mais do que as
pessoas.
O PCP reafirma a sua solidariedade para com os pequenos e
médios comerciantes e empresários de Santa Maria da Feira, mas anuncia também
que estará sempre ao lado dos trabalhadores que vierem a ocupar os postos de
trabalho a fixar nesta superfície: porque é preciso e é urgente uma outra política,
ao serviço dos trabalhadores e do povo, e não do grande capital, o PCP
manter-se-á firme e intransigente na defesa da população!
Santa Maria da Feira,
26 de Novembro de 2012
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