POESIA TROVADORESCA
Antes de apresentar qualquer descrição do que foi considerado
a “Poesia Trovadoresca”, noção abrangente da “tradição lírica peninsular” , de
os mais antigos textos literários (cantigas de amigo; cantigas de amor;
cantigas satíricas), bem como do âmbito cronológico (1198-1354), dividido em
ciclo afonsino (1198-1279) e ciclo dionísico (1279-1354), convém dar uma explicação
do uso de alguns termos, em uso
neste período da nossa literatura, para isso, nada melhor do consultar, um
livro já com alguns anos (a 3ª edição é de 1948), do Padre Arlindo Ribeiro da
Cunha, “A LÍNGUA E A LITERATURA
PORTUGUESA”, e, podem estar cientes disso, é , ainda hoje, dos melhores
compêndios de História da Literatura Portuguesa:
TROVADOR – termo que geralmente se considera
derivado, ou ao menos cognato, do provençal trobar
e do francês trouver, encontrar.
Era o nome dado ao poeta, quase sempre filho d’ algo, que compunha, encontrava,
a letra e a música de canções amorosas ou satíricas. Era um poeta, em geral,
culto e não executante.
JOGRAL – Em provençal, joglar, do latim ioculare, brincar,
zombar. Era um cantor e tangedor ambulante, que ia de Corte em Corte, da
castelo em castelo ou de um santuário em santuário, a executar versos, quase sempre alheios. Geralmente de origem
plebeia, fazia da arte uma profissão remunerada, e, nos tempos mais antigos,
também o papel de histrião. A palavra joglar
é documentada muito antes que a de trovador.
SEGREL – dissimilação de segrer [provençal segrier,
derivado de segre, segle(saeculum)]. Chamava-se-lhe
também jogral da Corte. Era trovador
profissional, fidalgo de baixa patente ou desqualificado, que ia de Corte em
Corte, a cavalo, acompanhado do seu jogral. Parece insustentável a doutrina dos
que fazem derivar a forma portuguesa da provençal, e esta directamente do
adjectivo segliér, formado do árabe zejjel,canção com estribilho.
MENESTREL – do homónimo francês que provém do
latim ministerialis .A princípio era
perfeitamente sinónimo de jogral. No
século XIII, começou a designar músico – poeta sedentário, que vivia em casa
dum Príncipe ou dum fidalgo; ao passo que o jogral andava de terra em terra.
SOLDADEIRA – Era uma espécie de jogralesa, quase sempre de moral
rasteira, que servida duma criada, acompanhava os segréis e jograis nas
excursões artísticas. Cantava e dançava por ofício, mas algumas figuram nas
cantigas como tangedoras. O nome por que eram conhecidas veio-lhes do soldo que recebiam.
POESIA – do verbo grego poiéo fazer, compor, é o género literário que exprime o belo por
meio da palavra rítmica. Como ainda hoje nos bailados, o termo poesia designava
também a música e a dança, as três artes do ritmo. Poeta era o nome que se dava ao
compositor da letra.
LIRISMO – é a expressão poética e espontânea
dum sentimento individual sincero. As composições desta natureza costumavam-se
executar ao som da lira, donde o nome
do género poético.
O PRIMITIVO LIRISMO - Desde muito cedo no noroeste da Península, ainda antes de se
constituir a nacionalidade portuguesa, já aí florescia uma literatura especial,
em vernáculo, que depressa se desenvolveu e aperfeiçoou, a ponto de exercer
influência em toda a Espanha e mais além.
Não chegaram até nós monumentos literários desse tempo, mas
os exemplares que possuímos dos Séculos XII e XIII permitem-nos formar ideia
bastante exacta dessa literatura. Trata-se dum lirismo composto com o fim de
ser cantado ao som da cítola ou da tiorba e muitas vezes sob o compasso da
dança.
Era uma poesia de carácter feminino. As gráceis e graciosas
donzelas de então, cheias de cuidados pela sorte dos amigos que iam no fossado
ou no ferido, carpiam a soledade que
as amargurava, desabafando coitas de
amor com uma irmã, de ordinário mais nova, uma companheira, ou com a própria
mãe. Outras veszes a cantiga era um
monólogo, um solilóquio, em que às ondas do mar de Vigo, aos cervos do monte ou
às avezinhas das florestas se pediam novas do amigo ausente.
Este saudosismo amoroso, efeito presumível das condições
históricas do tempo, comunicava à poesia um cunho acentuado de tristeza que se
diz própria de gente celta.
A poesia de tais composições era um lirismo burgês, popular
até, sem os estoicismos do coetesanismo provençal nem os frenéticos
arrebatamentos das gestas da língua d’oil. Respira-se aqui o ambiente
familiar, com um amor puro, humano e possível, frisante contraste com a afeição
adúltera, pecaminosa, dos Franco-Provençais.
Os temas são pedidos à Natureza, a tudo se pede a volta do amigo, tudo se aproveita para conferir
graça, pitoresco, encanto suavidade àquele género de poesias. A donzela é a que
fala, a que se mostra enamorada e saudosa, ao contrário do sucedido com as
poesias provençais, onde o amigo se fica extasiado perante a formosura da dona,
que se não digna corresponder-lhe.
Parece, pois, que as mulheres foram na literatura
galai-portuguesa as primeiras compositoras, como ainda hoje o são em muitas
quadras de gosto popular.
Destinadas à execução, essas cantigas raras vezes se
escreviam, não admirando, por consequência, se hajam perdido. Mas ouviam-se em todo o norte e centro do
País, na boca de raparigas solteiras, que labutavam no amanho dos campos,
fiavam de noite ao serão, espadelavam o linho, embalavam o berço dos irmãos
recém-nascidos, ou volteavam, em rítmicos movimentos coreográficos, no
território das ermidas ou dos santuários aonde iam em romaria.
Entretanto, os amigos andavam a cosnstituir e a estender o
território nacional, combatendo a moirama.
Em breve, porém, a literarura provençal invadiu a Península.
Em Portugal e na Galiza, teve o mérito de despertar o gosto do amortecido
lirismo nacional, polindo-o e tronando-o digno de aparecer na literatura
escrita, ao mesmo tempo que nos comunicava a cantiga de amor e imprimia, com o sirvantés, forma literária à nossa
ingénita propensão para a sátira e má língua.
Ficaram-nos assim três espécies de poesia, cujas colecções
constituem os mais antigos textos literários de Portugal:
1º Cantigas de amigo;
2º Cantigas de amor;
3º Cantigas de escárnio e de maldizer.
*Continua...
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